terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Sugestões de Leitura - Parte VI

Caros leitores do Sacrário das Plangências, como feito em todos meses, faço algumas sugestões de leitura, sempre condizentes com a temática do blog e com temas até já tratados, tecendo alguns comentários sobre o autor e sobre a obra.

SUGESTÕES:

MELHORES POEMAS. Raimundo Correia. Organização: Telenia Hill. Global Editora. 2001, São Paulo, 2ª Edição. 192 páginas.
Raimundo Correia é conhecido por ter participado da tríade Parnasiana na poesia brasileira, o que não o impediu de ter um feitio pelo estilo Simbolista que tanto lutou contra durante a vida (clique aqui para saber mais sobre o tema). Essa coletânea nos remete a um grande poeta, que, não obstante a sua preferência pela estética, não negava a sua influência do Romantismo (assim como Francisca Júlia, em sua fase Parnasiana) e também utilizava de grande variação melódica e estrutural para compor os seus cantos. Inevitavelmente, toda a variação era em prol de uma evolução do Parnaso, mas que em muito contribuiu para um senso de sugestão - e não de falta de arte - poucas vezes vezes visto no estilo.







WILLIAM BLAKE. Osbert Burdett. Editora: Parkstone Press UK. 2009, 1ª Edição. 256 páginas.
William Blake (1757-1827) não somente desenvolveu o ofício da poesia na transição da Inglaterra rural para a industrial (transição histórica que o perturbava), mas também o ofício de pintor e gravurista. Grande parte de sua obra de artista plástico está dedicada à ilustração de obras literárias, como A Divina Comédia, de Dante. O livro de Burdett, escrito em Inglês, demonstra essa face do poeta-pintor, que foi um dos poucos a conseguir demonstrar numa outra visão as suas próprias palavras, sendo bem sucedido em todas as áreas em que o seu dedo e o seu gênio fulguraram.







MEDEIROS E ALBUQUERQUE. Canções da Decadência e Outros Poemas. Organização: Antonio Arnoni Prado. Editora Martins Fontes: São Paulo, 2003; 1ª Edição. 214 páginas.

Medeiros e Albuquerque, patrono de cadeira na Academia Brasileira de Letras, foi, cronologicamente, o primeiro escritor com tendências Simbolistas no Brasil, muito devido à sua viagem para o continente europeu, de onde trouxe várias obras dos Decadentistas de lá, sendo o primeiro a ter contato com a Nova Escola. Apesar de seu intento inicial de divulgar o Simbolismo, logo considerou tal ação um erro, tornando-se, ironicamente, um vago inimigo do movimento, mesmo tendo sido ele o primeiro a trazer as novidades vindas da Literatura Europeia e as tido divulgado com grande frêmito. É com grande alegria que encontra-se nas livrarias suas Canções da Decadência, sem as quais o nosso Simbolismo não teria um começo provindo de uma fonte, de fato, e não de uma data escolhida por significância (data-se o início do Simbolismo brasileiro em 1893, com Missal e Broquéis, de Cruz e Sousa). Além de tudo, essa obra tem grande valor estético, pois, sem dúvida alguma, a métrica lógica numa obviedade musical nela não se encontra.



Caros leitores do Sacrário das Plangências, finda está aqui a sexta parte das "Sugestões de Leitura". Para a leitura das três obras sugeridas, o contexto histórico é inevitável - e obrigatório. Ora, para entender o porquê da necessidade de abraçar uma "decadência espiritual", mesmo que houvesse uma grande elevação erudita, entender-se-á o momento pelo qual estava as humanidades e o próprio ser humano - na época, envolto nas absurdas teses cientificistas. E como pontuei no caso de William Blake, a mudança que ocorria na Inglaterra e em todo continente (com as seguidas revoluções) naquela época perturbava os poetas, que deviam se posicionar entre o ser-hermético ou o ser-político, tendo o Romantismo, por deságue dos vários estilos que nele surgiram, optado por ambas, mas com uma tendência maior por um hermetismo que acabou iniciando o processo de afastamento da poesia do leitor popularesco.

Boa leitura!

Abraços,
Cardoso Tardelli

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