sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Um Descobrimento dos Simbolistas Brasileiros - Parte VII

Caros leitores do Sacrário das Plangências, nesta sétima parte da seção Um Descobrimento dos Simbolistas Brasileiros, passaremos por quatro autores, entre os quais um, Alphonsus de Guimaraens, conseguira excepcional reverberação nas letras brasileiras, sendo considerado o segundo maior simbolista entre nós desde aquela época.

POETAS SIMBOLISTAS:

Lívio Barreto (1870 - Iboaçu - CE - 1895 - Camocim - CE):

Este espetacular poeta, destacado na história do Simbolismo por ser um dos fundadores da "Padaria Espiritual", a maior sociedade Simbolista do Nordeste e de onde revelavam-se grandes poetas do estilo, sofrera muito durante a sua vida por consequência do seu ofício de caixeiro (assim como já haviam sofridos vários outros, desde a época do Romantismo). Lívio destacou-se pelo furor a que dedicava em defesa do movimento, não à toa sendo um dos líderes da "Padaria". Morreu jovem, aos 25 completos, de uma congestão cerebral, um dia antes de seu amigo, o Dr. Valdemiro Cavalcanti, entregar ao editor a sua única obra, intitulada à toa de "Dolentes".

LÁGRIMAS

Lágrimas tristes, lágrimas dolentes,
Podeis rolar desconsoladamente!
Vindes da ruína dolorosa e ardente
Das minhas torres de luar vestidas!

Órfãs trementes, órfãs desvalidas,
Não tenho um seio carinhoso e quente,
Frouxel de ninho, cálix recendente,
Onde abrigar-vos, pérolas sentidas.

Vindes da noite, vindes da amargura,
Desabrochastes sobre a dura frágua
Do coração ao sol da desventura!

Vindes de um seio, vindes de uma mágoa,
E não achastes uma urna pura
Para abrigar-vos, frias gotas d'água!

1893

(Em Dolentes)

GLOSSÁRIO:
Desvalida: Desamparada.
Frouxel: As penas mais macias das aves; aquilo que é forrado dessas penas.
Cálix: Cálice.
Frágua: Calor intenso; amargura, aflição.

ÚLTIMO DESEJO

Quando vier a Morte, ouve-me, escuta
A minha triste e última vontade:
Ela resume a minha mocidade
Que crepuscula e pálida se enluta.

Trago no seio muita dor oculta,
Muita tortura, muita ansiedade:
Esta - filha do amor e da Saudade
- Nascida aquela da passada luta.

Quero porém, a Deus, livre de penas,
Subir, alar-me às regiões serenas.
Ouve-me, pois: não tremas nem descores...

Respeita a minha campa úmida e fria,
Não na ultraje tua hipocrisia:
- Sim! em nome das Lágrimas, não chores!

(Em Dolentes)

GLOSSÁRIO:
Campa: Pedra que cobre a sepultura, lousa.

Zeferino Brasil (1870 - Porto Grande - RS - 1942 - Porto Alegre)

Zeferino Brasil foi um dos poucos casos, numa análise do Simbolismo brasileiro, de poetastro. Misturando influências românticas e parnasianas, como a primeira geração do estilo, foi extramente bem sucedido em seu estro, sendo considerado, no final de sua vida, o "príncipe dos poetas do Rio Grande do Sul". Não obstante, é mais um caso do qual podemos tirar a lição de que o esquecimento, quando imerso num panorama maior e social, é implacável mesmo com aqueles que morreram sonhando com a terrena imortalidade.

NOSTALGIA DO CÉU

Alva e flébil deslizas na existência
Como um som de cristal fino e harmonioso,
E boiam nos teus olhos a dolência,
A nostalgia do Maravilhoso.

Esperando o teu Príncipe-Formoso
(Esse a quem te darás como uma essência)
Conservas de outro mundo luminoso
Uma vaga, sutil reminiscência...

Uma vida recordas doce e leve,
Vida de sonho em terras encantadas,
Gorjeio de ave, flóculo de neve...

E, saudosos do céu, erra, na Vida,
Como duas estrelas exiladas,
Os teus olhos de virgem dolorida.

(Em Teias de Luar, de 1924)

GLOSSÁRIO:
Flébil: Lastimoso, tristonho, plangente.
Dolência: Mágoa, lástima.
Flóculo: Pequeno floco.

MORTA!

Alma minha gentil que te partiste
Tão cedo desta vida descontente.
Camões

II

Caia profunda noite! a sombra caia
Sobre minh'alma, e o coração me vista
De negro! Que a alegria não exista
Mais para mim! Choroso, o sol desmaia...

Ela morreu, sonhando! Amortalhai-a,
Flores, astros e versos de ametista!
Que a treva para sempre me revista!
Estrelas, sóis, ela morreu, chorai-a!

Ela morreu! Meus sonhos, ide, em bando,
Vê-la uma vez ainda! ide senti-la,
Beijá-la, inda uma vez! Ide, chorando,

Dizer-lhe, enfim, com voz magoada e doce,
Que o seu olhar de morta inda cintila
No meu olhar como se viva fosse.

(Em Vovó Musa, de 1903)


Azevedo Cruz (1870 - Município de Campos - RJ - 1905 - Nova Friburgo - RJ)

A discussão acerca da poética de Azevedo Cruz, que foi colega de Alphonsus de Guimaraens no Largo de São Francisco, é muito ampla. Ao contrário de muitos poetas do estilo, Azevedo Cruz tinha forte posição política (durante a Revolta Naval de 1893, fez parte do Batalhão Acadêmico de São Paulo por decisão própria, por exemplo, além de ter vários poemas com teor político elevado), mas nunca negou a sua admiração, principalmente, por Cruz e Sousa. Pelo seu envolvimento político, diziam-no Parnasiano à lá Bilac, mas Azevedo Cruz combatia a "Arte pela Arte" e a rigorosa estética parnasiana (como veremos no soneto "Minha senhora, o amor", cuja leitura torna-se impossível sem botar ritmo de leitura-poética ao título e epígrafe). Tuberculoso, foi mais um caso de morte por essa doença em nossas letras. Ergueu-lhe o município ventral um busto na praça de São Salvador.


MARECHAL DEODORO

 Os mortos governam os vivos
A. Comte

Deixai passar o Grande Morto!
Deixai passar, deixai passar...
Sereno vai, sereno e absorto
Vai a enterrar, vai a enterrar!

Pois embaraça-lhe o Calvário
Último? O céu por que se fez?
Que o grande Morto Legendário
Descanse ao menos uma vez...

Que a Alma do Herói seja bendita...
As gerações que vêm atrás
Darão ao simples cenobita
Envergaduras imortais!

Por que essa Mágoa, essa Dor viva?
O Céu se fez por que razão?
Uma Alma assim tão primitiva
Não cabe dentro de um Caixão!

Talhem no bronze a sua Imagem
E o Monumento seja tal
Que caibam os Preitos e a Homenagem
Deste assombroso funeral!

E o redivivo Americano
Terá, por transfigurações,
Crescido o vulto sobre-humano
Por gerações e gerações!

E quando a Pátria um dia tenha
Alguma Dor, algum Pesar,
Em romaria ouvi-lo venha
E a laje fria há de falar...

Deixai passar o Grande Morto!
Deixai passar, deixai passar...
Sereno vai, sereno e absorto
Vai a enterrar, vai a enterrar!

Recitado pelo autor à passagem do caixão pela Rua Moreira César (Rua do Olvidor)


GLOSSÁRIO:
Cenobita: Indivíduo que leva vida retirada e monacal, mas que tem os mesmos princípios e interesses dos outros.

*Lembrar de ler o "minha senhora, o amor" no ritmo do verso. Exclui-los é excluir a poesia.

MINHA SENHORA,

o amor

degenerou, por fim, numa palavra falsa,
e hoje já não é mais uma alucinação;
tudo o que o doura e o veste e o transfigura e o realça
da fantasia vem, nunca do coração!

É uma frase feliz no delírio da valsa,
uma chama no olhar, um aperto de mão...
um capricho, uma flor, uma luva descalça
que alguém deixou cair e que se ergue do chão!

Disse-lhe isto e esperei. Um silêncio aflitivo,
longo e soturno como os torvos pesadelos,
pairou no espaço como um ponto sobre um i!

Dormi; quando acordei vi-me enterrado vivo,
dentro da noite má dos seus negros cabelos,
em cuja cerração corre que me perdi!...

(De uma revista da época)

GLOSSÁRIO:
Torvo: Que causa terror; iracundo; sinistro, lúgubre.

Alphonsus de Guimaraens (1870 - Ouro Preto - MG - 1921 - Mariana - MG):

Definitivamente um dos maiores poetas da literatura brasileira, Alphonsus de Guimaraens ainda é prejudicado pela falta de re-publicação de sua obra completa. Segundo Andrade Muricy, a obra de Guimaraens, em qualidade e quantidade, só pode ser comparada à de Machado de Assis. A obra de Alphonsus, extremamente influenciada pelos simbolistas franceses, passou pela prosa, pela crônica, mas se destacou na poesia, gênero sobre o qual estendia com clareza, musicalidade, e muita quantidade, as dores da sua vida. É impossível analisar a obra de Alphonsus de Guimaraens sem o referencial da morte de sua noiva, Constança, finada por tuberculose aos 18 anos, assim como é impossível ler qualquer poema do autor sem o conhecimento da fé extrema que Alphonsus detinha em si. Era um poeta afeito à imagem de Maria (com relação a poesia religiosa de Alphonsus de Guimaraens, escrevi este tópico), envolto de remorso, fé e solidão do "sertão mineiro" de Mariana. Quando fora conhecer Cruz e Sousa, que já havia feito elogios fervorosos a Alphonsus no Estado de São Paulo (fonte: Obra Completa de Alphonsus de Guimaraens: Editora José Aguilar LTDA, 1960), tivera finalmente a face reconhecida no amplo círculo literário carioca e fixara o seu nome no panorama de grandes simbolistas da época. Jurídico recatado, em corpo isolado em Minas, mas, em versos, um ser esparso pelo Brasil, teve um mausoléu erguido no Cemitério Sant'Ana, em Mariana, pelo governo de Juscelino Kubitschek, quando este era governador de Minas Gerais.

RIMANCE DE DONA CELESTE*

Emen-hétan! Emen-hetán!

I

- Satã, onde a puseste?
Busco-a desde a manhã.
Ó pálida Celeste...
Satã! Satã! Satã!

E o Cavaleiro andante,
A toda, a toda a rédea,
Passa em busca da Amante
Pela noite sem luar da Idade Média.

- O vento ulula e chora...
Maldição! maldição!
A quem amar agora,
Meu pobre coração...

E o Cavaleiro passa
Ante a sombria porta
Da lúgubre Desgraça,
Silenciosa mulher de olhar de morta.

- Viste, velha agoureira,
O anjo do meu solar?
- Ah! com um Feiticeira
Ela acaba de passar...

E bate o Cavaleiro
A outra porta escura:
É a casa do coveiro,
Solitária feito uma sepultura.

- Quem sabe! acaso, acaso,
O meu anjo morreu?
- Fidalgo, morre o ocaso,
Não posso enterrá-lo eu!

Louco, às trevas pergunta:
Sombras pelos caminhos
Dizem que ela é defunta...
E ele começa a interrogar os ninhos.

- Acaso, acaso a viste,
Meu suave ruscinol?
- Ouves a endecha triste?
Bem vês que não vi o sol.

E o Cavaleiro escuta
Longe o estertor de um pio...
Talvez a voz poluta
E irônica de algum mocho erradio.

- O teu Anjo finou-se
Ao beijo de Satã...
Ai! do seu lábio doce,
Mais doce que a manhã!

Tinem arneses: voa
O cavaleiro andante
A toda a rédea, à toa...
Não acharás, Fidalgo, a tua amante!

II

- Satã, onde a puseste?
Que íncubo a fanou já?
- A pálida Celeste...
Ei-la no meu Sabá.

(Em Dona Mística, 1899)

*O gênero "rimance", segundo Andrade Muricy, foi posto em moda por Álvares de Azevedo (e bem o sabemos que o Simbolismo bebeu do Romantismo, sendo um movimento Pós-Romântico), sendo resgatado com excelência por Alphonsus de Guimaraens, cujo ápice no gênero foi a sua célebre Ismália.

GLOSSÁRIO:
Ulular: Soltar voz lamentosa, de uma maneira bradante.
Agoureira: Que predestina desgraças.
Mocho: No caso, designação de uma coruja sem um tufo de penas na cabeça.
Arneses: De arnês: armadura completa de um cavaleiro antigo; arreios do cavalo.
Íncubo: No caso: Demônio que, ao copular com uma mulher durante a noite, causa pesadelos e tormentos posteriormente.
Fanar: Murchar.
Sabá: Concílio de bruxos e bruxas, sempre à meia-noite, presidido por Satã.

SONETO III - ELECTA UT SOL

Via-a ao longe, e uma voz longínqua disse: "Basta
Olhá-la assim para de perto conhecê-la..."
- Bem sei eu, pois qualquer que no mundo se arrasta
Pode, sem ir ao céu, conhecer uma estrela.

"E nunca o seu olhar brando e morto se afasta
Do azul em que ela mora à terra imunda: é que ela..."
- Bem sei eu, bem sei eu: é santa, é pura, é casta...
Outra vida, outro mundo o seu olhar revela.

"Os dias entram e uns após outros se somem:
E nunca ela baixou até a vileza do homem 
Os olhos imortais de imagem dolorida,

Tristes olhos que são do céu divinas portas..."
- Bem sei eu, virgens há que pela humana vida
Passam, antes da morte, inteiramente mortas".

(Em Dona Mística)

VAGA EM REDOR DE TI...

Vaga em redor de ti uma fulgência,
Que tanto é sombra quando mais fulgura:
O teu sorrido, que é divino, vence-a,
E ela, que é luz de estrela, pouco dura.

De outra não sei que tenha a etérea essência
Que nos teus olhos brilha: nem a pura
Linha de arte de tal magnificência,
Como a que o rosto de anjo te emoldura.

Na candidez ebúrnea do semblante
Tens um lis de ternura, que desliza
À flor da pele em mágoa suavizante.

Não sei que manto celestial arrastas...
És como a folha do álamo que a brisa
Beija e balança ao luar das noites castas.

(Em Pulvis, em Poesias de 1955)

GLOSSÁRIO:
Fulgência: Fulgor, brilho, qualidade de fulgente.
Ebúrnea: Alvo e liso como o marfim ou de marfim.
Folha do Álamo: O álamo é um tipo de choupo de flores pequenas e de madeira branca, leve e macia.

PERISTYLUM - SONETO XII

Caiu sobre o teu corpo a última pá de terra,
E ninguém surge aqui para velar-te o sono!
E depois, neste Morro onde a Alma em sonhos erra,
A Cruz tombada, e a cova a florir no abandono...

O luar, que viste em vida, irá, de serra em serra,
Clareando a mesma noite; o sol fulvo do outono
Há de dormir, sempre ao clamor da mesma guerra,
Num esquife de luz para erguer-se num trono.

Outros dias virão cantando o mesmo hinário,
E outras noites chorando o mesmo luar que sigo,
E onde vejo ondular o teu longo sudário...

Dentro de mim, porém, há de morrer, profundo,
O poente em funeral do teu olhar antigo,
Para não mais ressuscitar aqui no mundo...

(De Câmara Ardente, 1899)

GLOSSÁRIO:
Fulvo: Alourado; amarelo amorenado.
Esquife: Caixão, féretro.
Hinário: Livro de hinos, sejam estes religiosos ou não.


Caros leitores do Sacrário das Plangências, nesta sétima parte deste estudo, pudemos ver o quão diferente era o movimento Simbolista internamente. Apesar de todos terem bebido das mesmas fontes, basicamente, muitos se dividiram em grupos - alguns rivais, inclusive -, colocando-se como Simbolistas, mas com a elegância de uma estética própria. Talvez isso prejudicou o movimento naquela época, pois a arte Nefelibata precisava de união, apesar de divergências estéticas, para desbancar os Parnasianos de seus totalitários direitos de cidade. Contudo, as divisões demonstram um lado singelo em cada poeta ("o ser que é ser") e em cada grupo... um lado que, apesar das divisões inexplicáveis, pois, em muitos casos, pouca diferença encontrava-se, demonstrava que o movimento era em prol de um Ideal, não em prol da fama e de bajulações tolas dos que tinham direito de palavra na época.

Abraços e bom Natal,
Cardoso Tardelli

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Sugestões de Leitura - Parte IV

Caros leitores do Sacrário das Plangências, faço, como pretendo em todo mês, as minhas sugestões de leitura. Ocasionalmente, algumas já foram utilizadas na moldagem de alguns tópicos estudados neste espaço, porém, aqui o objetivo é uma amostragem de obras (de edições novas ou não) que seguem o perfil deste blog.

SUGESTÕES:

GUILHERME DE ALMEIDA (Trad.) - Poetas da França. Editora Babel: 5ª Edição (bilíngue), 2011. 233 páginas.
Esta edição de algumas das várias traduções de poetas franceses do modernista Guilherme de Almeida chega ao Brasil em afortunada hora (a editora Babel tem como sede Portugal, mas começou a lançar os seus livros no Brasil). Contendo desde poetas dos estertores da Idade Média, como François Villon (1432-1463) até os mais altos elementos da poesia Simbolista da França, como Charles Baudelaire (1821-1861), é um livro que reúne toda a capacidade e fidelidade de tradução de G. de Almeida, algo que, de certa forma, condenava-o perante os seus revolucionários companheiros Modernistas, tendo em vista que a Poesia Francesa operou grande influência na poética de Guilherme, grande cultuador de sonetos requintados e estéticamente impecáveis. É um livro imperdível para os que têm interesse em boa poesia e, também, para os que têm interesse em métodos de tradução, pois, sendo uma edição bilíngue, as comparações entre os textos são inevitáveis.

FAGUNDES VARELA - Cantos e Fantasias e Outros Cantos.  Editora Martins Fontes: 1ª Edição, São Paulo, 2003. 436 páginas.

Talvez estejamos diante da edição mais completa que há, atualmente, da obra do poeta Romântico Fagundes Varela. Célebre pelo seu "Cântico do Calvário", talvez  também pelo seus dez cantos de "Juvenília", a sua obra não é devidamente divulgada nos dias atuais. Foi ele o maior poeta do Brasil depois de Álvares de Azevedo e antes de Castro Alves, este que, ainda na Academia de Direito do Largo de São Francisco, perguntado sobre os seus poetas prediletos, disse que "do presente, Fagundes Varela" lhe era o favorito. Em si, Varela teve grande fama entre 1860 e 1870, envolvendo-se em questões da pátria (Estandarte Auriverde) ou no puro spleen Romântico, que era próprio de seu panteístico ser, que preferia a calmaria das matas ao caos das crescentes cidades. Enfim, obra obrigatória para os fãs do Romantismo brasileiro.

ARTHUR RIMBAUD - Correspondência. Tradução: Ivo Barroso. Editora Topbooks: 1ª Edição, Rio de Janeiro, 2009. 474 páginas.

A arte da correspondência é uma das mais preciosas moldadas pelo ser humano, mas é uma que morrendo está no mundo contemporâneo. Muito talvez por consequência da ânsia de velocidade e efemeridade, não do afã de intensidade e prolixidade dessa ânsia de revelação que é, em si, é natural desse mesmo coração que sente horror ao passar do tempo, apesar de perambular desapercebida por muitos que para si mesmos não olham. Quando deparamo-nos com um livro de "correspondências" que contém os depoimentos dos processos referentes ao crime passional de Verlaine contra Rimbaud (o poeta de "Canção do Outono" atirou contra Rimbaud depois de várias turbulências no relacionamento dos dois), que contém desenhos produzidos pelo autor de "Uma Temporada no Inferno" - quando já da poesia havia desistido -, sejam eles na estadia na África ou sejam outros, inclusive feitos por Verlaine, e até mesmo desenhos feitos pela irmã do poeta na ocasião de seus derradeiros momentos, além das várias cartas escritas por Rimbaud, evidentemente, encontramos um livro que, se utilizado ao lado da poética do autor, dar-nos-á quase uma totalidade de compreensão de sua obra e mente (a totalidade é impossível, bem sabemos). Algumas das correspondências são de tocante desespero - outras de arfante ironia - mas todas inundadas por um tédio inexorável de tudo que rondava Arthur.

STHÉPHANE MALLARMÉ - Coleção Signos 02. Tradução: Augusto de Campos e Décio Pignatari. Editora Perspectiva, São Paulo, 3ª Edição, 2003. 232 páginas.

A capa da obra pode ser, de fato, um tanto diferente do que os leitores de Mallarmé, magnífico poeta Simbolista francês (um dos que mais reverberaram no Brasil; acima de tudo, o teórico da sugestividade), poderiam imaginar. A justificativa é de que o poeta fora um visualizador de uma época imergida na industrialização, o que desaguou nas próprias perspectivas tecnológicas que ficam evidentes na capa. Augusto de Campos e Décio Pignatari são dois dos expoentes da Poesia Concreta brasileira, justificando, assim, poemas-imagens como o encontrado no final do livro, no qual retrata-se o túmulo de Mallarmé numa repetição do nome do poeta, além de conter um natural jogo de palavras. O alto aspecto do livro é a tradução, de alta qualidade, mas deve-se saber sobre a obra dos tradutores. Aliás, o Movimento Concretista, apesar de totalmente alheio ao movimento Simbolista, num panorama temático, fora influenciado por este principalmente no que se refere aos jogos de imagens construídos por meio da métrica, não por meio de imagens que as palavras passam. Algo que começou no próprio Romantismo (com Fagundes Varela), perambulou como Símbolo no movimento Decadentista, e desaguou no extremo uso de imagens, nem tanto de profundas palavras, em nosso Concretismo.

Caros leitores do Sacrário das Plangências, finda está aqui esta seção de Sugestões Literárias. Apesar do claro foco no gênero poético, não creio que haja exageros nesta quarta parte: alguém tem de falar sobre estes autores.

Abraços, Cardoso Tardelli

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O livro-sequência "Drácula - O Morto-Vivo" tem uma razão de existir?

Caros leitores do Sacrário das Plangências, este post terá um conteúdo mais crítico do que o normalmente encontrado neste espaço. Quando se é lançada uma continuação de uma obra-prima, ainda mais cem anos depois da primeira versão, é natural que se comparem certos aspectos das obras. E eis o que farei.

O livro Drácula - O Morto-Vivo é a sequência do Drácula (1897) escrito por Bram Stoker (1847-1912), escrito pelo sobrinho-bisneto do escritor irlandês - Dacre Stoker - e por um aficionado pelo tema - Ian Holt -, que já havia feito um roteiro para o livro In Search of Dracula, de Raymond McNally e Radu Florescu, pelo qual se baseara Francis Ford Copolla ao rodar o seu "Drácula de Bram Stoker" (1992). O livro, publicado em 2009, mas pensado dez anos antes, como qualquer continuação não-escrita pelo escritor original (além de redigida mais de cem anos depois), necessitava de um alicerce de justificativas no enredo, nos personagens e, posteriormente, dos próprios autores.

Podemos analisar o livro sem os tais de spoilers, ou seja, sem revelar muito da trama. O questionamento que faço é, pura e simplesmente, sobre a razão de existência do livro. Antes de partir para algumas notáveis falhas dos personagens, discutirei as justificativas dos autores para a concepção da obra.

Em primeiro lugar, da parte de Dacre Stoker, a obra veio no intento de resgatar o nome do personagem Drácula para a sua família. Logo quando fora lançado o romance original, em 1897, a frustração de Bram Stoker com a pouca fama de seu livro foi imediata. Oscar Wilde, que foi colega dele de Universidade, era o mais famoso escritor de horror da época - e nem mesmo a prisão do autor de O Retrato de Dorian Gray alavancou a fama de Stoker. Após a morte de Stoker por consequência de um derrame, o livro teve uma montagem para o teatro e ganhou notoriedade. Logo esta estrela faria com que um filme fosse baseado na história (Nosferatu, em 1922, lançado na Alemanha), mas a viúva de Stoker, Florence não ganharia um centavo sequer pelos direitos autorais dos quais tinha realmente posse. Os direitos autorais de que a viúva de Stoker usufruiu foram os das adaptações para o teatro feitas no Reino Unido. Logo que fora lançado o Drácula da companhia Universal (1931), com o ator Bela Lugosi no papel do vampiro, a proporção do desastre foi hedionda: pobre, a mulher de Stoker soube que, por uma falha de documentação, mesmo em vida, Stoker não recebera um centavo de seus direitos vindos dos EUA desde 1899, pois a partir desta data as obras dele haviam caído em domínio público. E, sabemos todos, que após um tempo o grande referencial do personagem Drácula não seria a obra de Stoker, mas as várias produções de Hollywood, desde as mais sensatas até as mais absurdas. Portanto, num aspecto simples, Dacre Stoker escreveu o livro - o seu primeiro - para volver o nome Drácula ao sobrenome Stoker e tentar manter esse "sagrado personagem" nos mantos familiares, mesmo porque o personagem Drácula tornou-se maior que tudo, mas o crédito a Bram Stoker e à família ainda não foi dado na justa proporção, segundo Dacre. Pegando o ponto das produções cinematográficas, analiso os motivos pelos quais Ian Holt chamou Stoker para escrever Drácula - O Morto Vivo (o convite fora feito pelo especialista, não pelo membro da família Stoker).

Ian Holt teve o primeiro contato com a história por intermédio do filme Drácula estrelado por Bela Lugosi. Quando viu o filme, ficou encantado e logo procurou o livro, pois sabia que o roteiro era baseado numa obra literária. Quando terminada a leitura, percebera, em suas palavras que fora "enganado por Hollywood!". Apesar de ser um dos mais fiéis filmes baseados na obra de Stoker, acometem-no uma série de desvios de enredo, alguns aceitáveis, outros estranhos, ainda mais para uma companhia como a Universal (como o sumiço do personagem texano Quincey Morris). Ian Holt, ao notar que as histórias dos filmes estavam se fundindo com a história do livro, ficou preocupado. Quando Coppola lançou o seu Drácula (lembrem-se que o roteiro do filme havia sido baseado no roteiro escrito por Holt para o In Search of Dracula), criou-se um mito de amor entre as personagens Mina e Drácula. Este amor, no livro, nunca existiu - e somente fora levemente sugerido, por consequência da ligação-mental da mulher de Jonathan e de Vlad Dracul, nunca concretizado, porém. Esse mito de paixão entre os dois levou ao mundo certas denominações ao Conde, como "Príncipe das Trevas", ou no inglês, como Mina o chamava no filme: "My dark prince". Holt pensou numa continuação para aplicar uma conjunção de ideias entre o livro e os filmes mais fieis. O amor inexistente de Mina e Drácula no segundo livro foi descrito como fato na época dos acontecimentos do primeiro, entre outros fatos e localizações (Abadia Carfax, Manicômio do Dr.Seward, a casa dos personagens) que, em um século, foram se misturando por "livre-atuação" cinematográfica.

Portanto, sabendo-se que, por parte de um familiar de Bram Stoker, havia a intenção de rejurar a imagem de Drácula ao brasão familiar, e por parte de Ian Holt, havia o intento de chegar a um consenso entre as produções de Hollywood e o livro de Bram, vamos analisar o livro, em si.

Drácula - O Morto-Vivo tem como base alguns personagens que já haviam no romance de 1897 (Mina, Jonathan, Quincey Harker - o filho do casal, cujo nome fora dado em homenagem à morte do texano -, Dr. Van Helsing, Arthur Holmwood e Dr. Seward), além de outros inseridos na trama, como Elizabeth Bathory, o ator teatral Vladimir Basarab, o próprio Bram Stoker, o detetive Cotford, um obstinado à caça de Jack, o Estripador, que é um personagem vago, brumoso, mas que se revela alvo. Para ter uma trama, baseia-se numa falha do romance original (Drácula, para ser morto, tinha de ter em seu peito uma estaca encravada e sua cabeça decepada. No livro, porém, a garganta é levemente cortada e uma faca posta em seu peito, não uma estaca, fazendo com que o corpo do Condo se desfizesse numa bruma. Sabemos que Stoker falara em seu romance que "Drácula conseguia fazer-se em todas as formas da natureza", portanto, foi uma escapatória para os autores do livro), mas, tendo como alicerce os personagens do livro anterior, comete erros que, talvez, não foram percebidos pelos autores.

Visando meramente os diálogos, posso concluir que personagens do Século XIX foram transfigurados para o Século XXI. Não era necessária a mesma prolixidade verbal de Bram Stoker, mas o vocabulário chulo de personagens que também apareciam no outro livro (e que nunca haviam falado uma palavra nesse sentido), os diálogos mais breves possíveis, a falta de sinônimos - em contraste com a riqueza vocabular de Bram Stoker -, deram a impressão de que eu estava diante de outras personas, ou, pior, diante de um roteiro cinematográfico, e não de um livro que visava a conjunção das confusões entre os filmes e o Drácula, de Bram Stoker, não do linguajar. Mesmo Van Helsing, o personagem mais complexo do primeiro romance, fica sem palavras e inerte, em certa parte do romance.

O caso de Quincey Harker é, talvez, de um anacronismo interessante. Jovem, forçado pelos pais a estudar direito, mas que sonha em ser ator de teatro, tem momentos de serenidade mental dignos de um culto que ama Shakespeare (o sonho maior dele é interpretar uma peça do poeta inglês ao lado de Basarab), mas, em certos momentos - que, com certeza, são os mais enfadonhos do livro -, Quincey entra num combate contra os pais, o mundo e a vida, todos eles com argumentos muito frágeis, e que parecem com uma crise de identidade de um adolescente contemporâneo. É um personagem-chave, mas cuja fraqueza de argumentos  e de personalidade somente enfraquecem o enredo. Ao ler o livro, veio-me a ideia da "perpétua história" à qual tanto ouvimos, ou seja, aquele diálogo de que "sempre foi assim" e de que "o ser humano sempre agiu assim". Mas todos sabemos que, apesar da essencialidade dos sentimentos humanos estarem, a custos duros, rígida em nosso espírito, os seres humanos nunca foram os mesmos em suas gerações - e nem o serão nas futuras; e eis o encanto do passado, do presente, do futuro e da óbvia transfiguração do porvir no hoje.

A história, em si, seria aprovada por Bram Stoker, se este quisesse, de fato, lançar uma continuação para a sua obra-prima. Apesar do distanciamento entre a qualidade literária do primeiro e segundo livro, muito devido às falhas de redação, o enredo é muito bom. O meio pelo qual Drácula não foi morto fora uma saída boa, assim como todas as consequências desse fato durante o texto. A inserção de personagens históricos na trama desaguou numa enredo que nos leva para a data base do livro (início do Século XX) e até mesmo aos remotos tempos de Elizabeth Bathory (Século XVI).

O pecado-essencial de Dacre e Ian não foi escrever uma continuação, mas foi a falta de fidelidade aos personagens originais, o que me leva a concluir que a obra não é fiel estéticamente (e nem tematicamente, se formos contar as várias distorções que há no livro, mas que são aceitáveis pelos motivos dados por Ian Holt na justificativa da escrita da obra) ao velho Drácula, de 1897, apesar de ser um bom livro. A tentativa de dar profundidade aos personagens foi falha por falta de palavras e afobamento descritivo, algo comum na "Nova-Geração Americana de Literatura".
Portanto, Drácula - O Morto-Vivo, no aspecto pessoal dos autores, foi concebido com justificativa plena. Mas, no aspecto literário, é falho por seguir a linha de raciocínio das novas obras de prosa: capítulos curtos, diálogos rápidos, ações velozes, resoluções de problemas ligeiras, levando consigo, como um mar agitado, personagens sacrificados por uma escrita que mal nos mostra a quintessência do ser.

Abraços,
Cardoso Tardelli

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A Poesia como Ciência - Eis que surge o medo para a sua leitura?

Caros leitores do Sacrário das Plangências, nesta postagem tenho o objetivo de discutir alguns aspectos da leitura poética e de sua relação na sociedade atual. O título é auto-explicativo, mas requer divagação: em nossa sociedade inundada da "Ordem Científica" (leia-se "Ordem" também num sentido em que estas as ideias - as ditas "Científicas" - tão-somente têm direito de cidade), como a leitura de um texto poético poderia ser encarada pelas pessoas sem ser pelo viés da ciência? Faço um adendo de imediato: não vamos confundir a leitura com a análise-formal de um texto. Esta sim, apesar de minha rejeição à palavra Ciência em um contexto didático, pode ser considerada uma ciência (no decorrer da postagem, vamos analisar, não obstante, a letalidade a que esse método pode levar a arte poética).

Talvez muitos já tenham ouvido, depois de uma pessoa se deparar com a leitura de um poema, algo como "não entendo poesia" ou coisas piores ainda, como "não sou poeta, portanto, não compreendo esse tipo de texto". A leitura de um texto poético em nossa sociedade é analisada da mesma forma pela qual analisamos um método científico acadêmico-restrito, ou até mesmo a leitura de um poema é encarada com o mesmo grau de mistério de uma resolução de um exercício de Matemática, Física, entre outras Ciências Exatas. Porém, essas mesmas pessoas que falam que não entendem poesia, leem prosa, muitas vezes, com tranquilidade. Não discordo que a poesia que um gênero que não raramente passa perto do abstrato, mas, em muitos casos, a imagem é tão clara quanto a luz do alvorecer.


Um dos argumentos mais comuns e frágeis contra a arte poética é aquele velho "um poema não tem personagem". Sabe-se que um poema que não causa sensações ao leitor desagradou, pois o intuito da arte poética é ser Belo (e, como Keats divagaria em sua Ode sobre uma Urna Grega, "a beleza é a verdade") e, consequentemente, causar uma comoção. Os sentimentos do autor, portanto, encontram-se com o espírito aberto do leitor - que torna os próprios sentimentos e a si mesmo os personagens da poesia e de seus enredos.
(Foto: Fagundes Varela)


Pergunto-me, pois, se os versos fossem "transformados" em sentenças comuns, o entendimento dessas pessoas tornaria-se melhor? Como ficaria a parte nona de Juvenília, composta pelo nosso Romântico Fagundes Varela (1841 - 1875), transfigurada em sentenças simples, mas rimadas de acordo com o poema original, (sem as tradicionais barras que dividem os versos) e que trazem a divagação original? Vejamos:


JUVENÍLIA

IX

"Um dia o sol poente dourava a serrania, as ondas suspiravam na pria mansamente, e além nas solidões morria o som plangente dos sinos da cidade dobrando Ave-Maria. Estávamos sozinhos sentados no terraço que a trepadeira em flor cobria de perfumes; tu escutavas muda das auras os queixumes, eu tinha os olhos fitos na vastidão do espaço.
Então me perguntaste, com essa voz divina que a teu suave mando trazia-me cativo:
- Por que todo o poeta é triste e pensativo? Por que dos outros homens não segue a mesma sina?
Era tão lindo o céu, a tarde era tão calma... E teu olhar brilhava tão cheio de candura, criança! que não viste a tempestade escura que estas palavras tuas me despertaram n'alma!
Pois bem, hoje que o tempo partiu de um golpe só sonhos da mocidade e crenças do futuro, na fronte do poeta não vês o selo escuro que faz amar as tumbas e afeiçoar-se ao pó?"

Bem vemos que, apesar de ter perdido a feição versificada, manteve-se musical essa magnífica obra de Varela. Muito vale notar que o poema é narrativo, como vários outros da época, panorama que se manteve em muitos outros estilos (o Parnasianismo brasileiro chegou a fazer adaptações em prosa para algumas obras poético-narrativas de autores estrangeiros, como em o Rei Fantasma, poema em quartetos de Goethe, traduzido para nossa língua em prosa por Francisca Júlia). Nota-se que o poema de Varela, sendo narrativo - em versos ou não -, é de fácil interpretação. Algumas palavras que poderiam causar dificuldade ("plangente", "aura") são facilmente achadas em dicionários on-line. Porém, creio que, ao retirar a aparência de versos, retirarei o manto fantasmagórico que a muitos tornam a leitura poética uma dificuldade desde o início. Mas o que, de fato, transforma uma estrofe em algo tão misterioso? Sentenças quebradas (enjambements), musicalidade incomum, ritmo? Não creio.

Quando o ensino de arte poética é praticado em escolas, muitas vezes é enfatizado o caráter formal do texto, dando importância à métrica, ao valor da rima, ao tipo da rima no contexto da estrofe, e se aquela estética satisfazia ao parâmetro do estilo literário escolhido pelo autor. Quando referia-me à perspectiva de um leitor que via um texto poético qual um texto de compreensão difícil, exclusiva para poucos (no caso, aos acadêmicos), tinha como intenção mostrar em qual momento começa essa perspectiva. Quando se dá uma suposta ciência em detrimento do texto - que é altivo e superior a quaisquer que sejam as análises de métrica ou valor de rima -, a arte poética funde-se às Ciências Exatas, porque o conteúdo poético e humano foi posto de lado para focalizar uma análise rígida e concreta da estrutura poética.

Ao mesmo tempo em que isso ocorre, o real valor da arte poética não é posto à visão dos alunos, que leem dois poemas - se muito - de cada autor, além de resumos contendo a divisão "Estética" e "Temática", que são mostradas em seções anteriores aos poemas dos autores e postas nos devidos movimentos literários. Vê-se, portanto, que a "Estética Plástica" - o nome correto da estética a ser discutida - é o ponto inicial de uma análise textual de um poema atualmente.

Inegavelmente, contagens silábicas, referências de valores de rimas (apesar do meu questionamento sobre a real importância que esses valores impõem num poema), entre outros estudos da Estética Plástica, são importantes para situar o aluno em determinados movimentos literários (é impossível analisar o período Parnasianismo/Simbolismo/Modernismo sem saber de métrica e a sua consequência na musicalidade), mas a ausência de um estudo melhor sobre os literatos soa-me estranha. Não se trata somente de um estudo sobre a obra, mas sobre os autores. Não posicionar o aluno no aspecto, que é real, da influência biográfica sobre a obra é uma grande falha. É quase explicar o lançamento de Broquéis (1893), de Cruz e Sousa, que foi livro essencial para o Simbolismo no Brasil, sem colocá-lo no contexto pós-abolição (1888) e explicar que Cruz e Sousa já havia lançado um livro - Missal -, o qual recebeu críticas horrendas, algumas dizendo que "Cruz e Sousa não negava a ascendência dos primitivos", e que "ele era um maravilhado" diante da civilização". O título Broquéis, sabem os que gostam de Cruz e Sousa, fora escolhido após o lançamento de Missal - e seu significado (pequeno escudo; no figurado: proteção) deixava claro o quanto Cruz e Sousa havia ficado abalado pelas críticas.

Portanto, fundir o ensino da arte poética com métodos de ensino das Ciências Exatas parece-me um erro que leva os alunos a um desinteresse quase perpétuo ao estilo - que bem sabemos, pouco tem de misterioso. A poesia, assim como qualquer matéria de Humanidades, tem de ser ensinada com o aspecto básico de que o alvo principal do estudo é amplitude do pensamento humano sobre as coisas que o rondam, inclusive sobre ele mesmo, naquela tentativa de encontra-se num panorama diferente do comum. Sabendo que as divagações sobre o ser não são possíveis de serem postas de uma maneira exata ou prática, de fato, é impossível chamarmos a Arte Poética de Ciência Poética, como quase está sendo concretizado estudo de poesia, por consequência do enfoque nos aspectos da Estética Plástica (talvez semelhante à análise de um quadro; podemos analisá-lo de um ponto de vista emocional, ou seja, de como a aparência e o jogo de cores e traços afetaram o seu ser - ou podemos julgar de um ponto de vista Plástico, logo, a perfeição dos traços ou o aspecto temporal daquele estilo e se, por consequência, ele se encaixa à época na qual ele fora pintado).

Cogitações como "há um problema básico de interpretação de texto", apesar de reais e gravíssimas, não julgo necessárias para a análise desse "fantasma da poesia", pois coloco exemplos de pessoas que leem prosa com facilidade, mas têm uma dificuldade imensa em compreender um texto poético. Tampouco estou falando que todos devem gostar do gênero poesia; digo somente que a compreensão de um texto poético inicia-se, atualmente, no aspecto mais exato e formal do estilo, e não da interpretação do texto, em si. Desenvolvendo o que no início havia dito, naquela analogia com algumas das Ciências Exatas, é como se alguns vissem a poesia qual uma equação a ser resolvida - e de maneira muito enfadonha.

A poesia é um gênero desvalorizado entre os jovens, assim como a música erudita (outro caso em que a apresentação da forma vem em primeiro lugar e soa complexa demais, fazendo com que muitos percam os intentos básicos de um ouvinte, que é tão somente ouvir e entregar-se às melodias escutadas), e para mudar o panorama dessa desvalorização deve-se, em princípio, deixar claro ao aluno o conteúdo humano da poesia, além de evidenciar a grandeza do gênero na amplitude da Literatura. Ninguém se interessará por poesia no Brasil se não se fizer um contexto histórico (na junção óbvia, porém vaidosamente difícil, de professores de literatura e história), se a obra não for colocada à mercê dos sentimentos e ânsias dos alunos (ao contrário do que defendem muitos, ler Camões não é anacrônico e diz, muito sim, aos jovens de nosso tempo; as sociedades mudam, mas o afã humano, num aspecto geral, mantém um alicerce básico, independentemente da época), e, por desenvolvimento de temática, obter a divisão da análise da obra - a mais importante - e da análise da Estética Plástica, que poderia ser dada de uma maneira muito mais interessante, envolvendo os contextos intelectuais de cada época.

Mas antes que me chamem de platônico (o que não me ofende), por discorrer algo que é impossibilitado pela natureza científica e escolar de nossa sociedade, portanto por supor "um mundo das ideias", todos sabemos que a estrutura de ensino básico no Brasil é ruim. Mesmo quando julga-se boa, caso das célebres particulares, fazem dos alunos espectros dos números rumo ao Vestibular, instituição posta num altar sabe-se lá por qual motivo. Nas escolas públicas, as Humanidades perdem aulas a cada ano; nas particulares, prestígio. Em si, em ambos os casos, e na questão poética também, numa sociedade em que "somente o que é produzido pela Ciência deve ser levado a sério" é natural a rejeição do que "não se toca, não se vê", mas que demasiado sente.

Abraços,
Cardoso Tardelli

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Um descobrimento dos Simbolistas Brasileiros - Parte VI

Estimados leitores do Sacrário das Plangências, eis a continuação dos estudos do movimento Simbolista Brasileiro. Os poetas pelos quais passaremos hoje são pouco conhecidos nos dias atuais, mas tinham uma reputação literária considerável na época, findada, talvez, por aquela sina do Movimento Simbolista que tanto irritou Andrade Muricy, ao escrever o Prefácio da Segunda Edição do "Panorama do Movimento Simbolista Brasileiro". Se antes o Simbolismo pecava pela falta de autores, resumindo-se para muitos a Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens, depois do "Panorama" e de seu aspecto amplo de pesquisa, o Movimento pecava pelo excesso. De fato, parecia um movimento que nascera para ser renegado, apesar de ser claramente o movimento precursor de qualquer que seja a noção de Modernismo que tenhamos.

POETAS SIMBOLISTAS:

Arthur de Miranda (1869 - Rio Preto - MG - 1950 - Rio de Janeiro):

Engenheiro, mas, acima de tudo, um jornalista importante - iniciando a sua atividade ainda no período monárquico -, fez parte da primeira camada do Simbolismo, com a qual manteve relações estreitas de amizade, principalmente com Cruz e Sousa e Nestor Vítor. Por intermédio dos veículos de imprensa e das ocasiões sociais da época - como discussões em cafés -, fazia propaganda do movimento Simbolista, sendo todas extremamente rumorosas. A sua poesia demonstra uma grande influência do Cisne Negro, mas não perdendo a característica própria que lhe é devida.

FIM DE LEITURA

Só, na sombria sala em vão medito,
E os velhos temas rememoro e afago;
Ah! com que sabor delicioso eu trago
Este imortal e luminoso escrito!

Vem do passado, e por senti-lo fito
A letra e a cor do pergaminho vago,
De cujo traço um réquiem esquisito
Percebe, em sonho, o coração pressago.

Lá fora a tarde se amortece a apaga,
E fria e funda escuridão mortuária
Por toda a sala imota se propaga.

Horas de círios pelo espaço torvo,
Sonho, escutando n'alma funerária,
De asas abertas, crocitar um corvo.

(Do inédito Névoas. Cópia fornecida a Andrade Muricy)

Glossário:
Pressago: Adjetivo que significa pressagioso, que detém agouro. No Simbolismo tinha, normalmente, um significado negativo.
Imota: Imóvel.
Torvo: Terrível, sinistro; que causa horror.
Crocitar: Grito do corvo.

Figueiredo Pimentel (1869 - Macaé - RJ - 1915 - Rio de Janeiro)

Jornalista e autor de livros infantis importantes para o início do Século XX, além de ter sido escritor de estranhas obras de prosa como O Aborto e o Suicida, teve como marca, por ser editor da seção "Binóculo", da Gazeta de Notícias, a frase "O Rio civiliza-se". Essa seção tinha como foco ser quase um conselheiro dos leitores no modo de agir perante a sociedade, criando certos padrões naquela Rio de Janeiro que se civilizava à moda europeia. De um ponto de vista poético, foi Figueiredo Pimentel um vanguardista do Simbolismo, atuando fervorosamente ao lado da primeira camada do movimento, além de ter uma correspondência com os simbolistas franceses. Não podemos esquecer que um movimento literário não se faz somente de obras, mas também por meio da divulgação residente e além-mar, por meio de apoio de artistas já célebres, quando não excedendo o limite - apoio político, como foi em nosso Romantismo -, além da qualidade artística do movimento em si.

OLHOS MISTERIOSOS

Enigma vivo! esfinge indecifrável!
Quem poderá, acaso, desvendar
Os arcanos que existem no insondável
Fundo daquele olhar?!...

Olhar que lembra o Fogo-fátuo, errante,
De cova em cova, rápido, a fugir;
Olhar d'aço - ora morto, ora brilhante,
Esquisito, a fulgir...

Olhar imenso, olhar caliginoso,
Do Infinito espelhando a vastidão,
Que terrível segredo misterioso
Reflete o teu clarão?

Olhar que fala... Mas, que língua estranha,
Que idioma de bárbaro país,
Falam tais olhos, cuja luz me banha,
Fazendo-me infeliz?!...

Que paisagem fantástica de Sonho
Esse olhar nebuloso reproduz
- Luar triste, deserto, ermo, tristonho,
Sem trevas e sem luz;

Onde uma cor funérea, indefinida,
(Uma cor, que não é bem uma cor)
Paira como uma luz amortecida,
Um lívido palor?

Enigma vivo! esfinge indecifrável!
Quem poderá, acaso, desvendar
Os arcanos que existem no insondável
Fundo daquele olhar?
Olhar trevoso, olhar que nos aponta
Incognoscível Região d'Além:
Quem é que sabe o que esse olhar nos conta?!...
Ninguém!... Ninguém!... Ninguém!...

(Em Poetas Brasileiros Contemporâneos)

Glossário:
Arcanos: Mistérios.
Insondável: Que não pode ser explorado, misterioso.
Fogo-Fátuo: Fogo-Efêmero, de curta duração. Expressão muito comum no Simbolismo.
Olhar Caliginoso: Olhar cego.
Palor: Palidez.
Incognoscível: Além da compreensão humana; inefável (no sentido referido desta palavra); o que não se pode conhecer.

Dário Vellozo (1869 - Rio de Janeiro - 1937 - Curitiba)

Talvez um dos maiores intelectuais do movimento Simbolista brasileiro. Segundo Andrade Muricy, Dário Vellozo "era um expositor tendencioso, mas irresistível. A sua oratória, imaginosa, vivaz, sem vã retórica. Sempre eficaz. (...). Dário Vellozo tinha irresistível ascendente sobre a juventude e sobre numerosos amigos que nunca o abandonaram (...)". Foi esta excepcional figura um autor completo: escrevera em romance, conto, poesia, oratória, ensaios, jornalismo, história, polêmica religiosa, entre outros. O Ocultismo com o qual tinha contato era tratado com respeito pelos seus amigos - quando não seguido por eles. A sua poesia era hermética, sugestiva, culminando numa epopeia imensa e póstuma - Atlântida - que é de dificílima composição.


CAMPO SANTO

..........................................
Andei, Senhor, lavrando a terra nua,
À chuva, ao sol, à neve, ao frio...

Abria a terra ao sulco da charrua...

E minha alma - sol de estio -
De rósea e juvenil foi se fazendo antiga,
E se ficou, Senhor, como a última espiga,
Abandonada, no campo, à luz fria da Lua...

Sou o sulco da charrua
Que a água do monte umedeceu.

Era uma noite de lua,
Quando minha alma arrefeceu...

Não mais lavro, Senhor, a terra nua...
A charrua partiu-se; o coração morreu.

Curitiba, 17 de Abril de 1902.

(de Cinerário, publicado em 1929)

Glossário:
Charrua: Arado com rodas dianteiras.
Arrefecer: Perder o calor. Fig: perder o entusiasmo ou o alento.

NO REINO DAS SOMBRAS

A Hermínia Schulman

Plenilúnio. O olhar molha as colunas dóricas...
Junto ao pronau medito, evocando o teu rosto.
Que saudade de ti, dessa tarde de Agosto,
De tintas outonais e visões alegóricas!

Saudade!... O coração lembra idades históricas...
Na Atlântida eras tu pitonisa... Ao sol posto,
Dizias da alma irmã os arcanos... Teu rosto
Banhava-se na luz das estrelas simbólicas...

Tantas vezes perdida! Imerso em luz ou treva,
De vida em vida, à flor do céu, te procurava,
Na dor da solidão... E, quando a lua eleva

A lâmpada votiva, eu te procuro ainda,
- Alma branca, alma irmã, alma em flor, alma eslava -,
Na poeira dos sóis da solitude infinda.

Templo das Musas, 3 de Novembro de 1928.

(em Cinerário)

Glossário:
Plenilúnio: Lua Cheia.
Colunas Dóricas: Arquitetura que fica entre o desenvolvimento rústico Toscano e o maior desenvolvimento Jônico.
Pronau: Seção anterior de um templo antigo.
Pitonisa: Sacerdotisa de Apolo; Vidente, sujeito pressago.
Votiva: Oferecida em cumprimento de voto, no caso.
Solitude: Solidão.

Júlio Perneta (1869 - Curitiba - 1921 - Curitiba)

Irmão do também poeta Simbolista Emiliano Perneta, foi Júlio um dos grandes polemistas paranaenses de sua época, obtendo visualização no meio jornalístico por meio de suas polêmicas e defesas da terra. Era um regionalista - e cantava as belezas do Paraná com o auxílio de símbolos sutis e de sugestividades que tornaram-no famoso. Não se achará um brado da terra como um Casimiro de Abreu na obra de Júlio Perneta, mas fitar-se-á a cor dos poentes e do nascer do sol paranaense que o próprio Emiliano Perneta havia cantado na longa canção "O Sol". A face regionalista de J. Perneta ficou mais clarividente na prosa, pois em seu estro, mesmo escrevendo mais alentadamente, chegando quase ao ritmo das Lieds alemãs em certos poemas, foi um típico Simbolista. Júlio morreu seis meses depois da morte do irmão, falecido também em Curitiba.

CREPÚSCULO

No túmulo do ocaso iluminado,
Como nau afundando em tírio porto,
O dia tomba, triste, abandonado,
Nostálgico de luz e de conforto.

Horta em que o coração, genuflexado
Ante a visão feral do desconforto,
Vê desfilar das sombras do Passado,
Aos merencórios raios do sol morto.

Hora de dor, profunda de saudade,
Feita de lágrima e de prece ungida,
Soturna de velhice e mocidade!...

Como eu te sinto em mim, como eu te quero!
És a imagem fiel da minha vida
Que, apesar da desgraça, inda venero!

1897

(em Antologia Paranaense)

Glossário:
Tírio: No caso, purpúreo.
Genuflexado: Neologismo derivado de "Genuflexão", que significa dobrar os joelhos. No caso, soa como em sinal de resignação e rendição aos pesares.
Feral: Fúnebre, funesto, lúgubre.


OS TEUS OLHOS SÃO FEITOS DE LUAR...

I

Os teus olhos são feitos de luar,
E o céu, sorrindo num rendilhamento
Sonoro de astros, põe-se a meditar
Nesses teus olhos, com deslumbramento,
Feitos de estrelas, lírios do luar.

II

Olhos de imagem, olhos de oração,
Num misticismo eterno de saudade.
Olhos que o céu contempla da amplidão,
Cheio do tédio da infelicidade
Por não possuir teus olhos de oração.

III

Olhos que têm fluidos de ternura,
Olhos que fazem tantos desgraçados;
Olhos que os astros, da infinita altura,
Contemplam mudos e maravilhados...
Olhos que têm fluidos de ternura.

IV

Olhos que têm a dor perolizada
- Branco Missal das minhas devoções -,
Quanta tristeza, ó santa ciliciada,
Nesses teus olhos de constelações,
Onde soluça a dor perolizada!

(em O Cenáculo, Curitiba, 1896)

Glossário:
Rendilhar: Adornar com renda.
Perolizar: Da cor ou aparência de pérolas.
Missal: Livro em que consta as orações de um ritual.


Termino aqui a sexta parte deste estudo com a ideia exposta no início: independentemente do que produzira ou deixara de produzir o movimento Simbolista, em 1980 - data do prefácio da segunda edição - Andrade Muricy já demonstrava certo grau de irritação com as críticas sem base contra o Simbolismo. Pecava por ser escasso - e depois do "Panorama", por ser abrangente demais, negando o feitio Simbolista de Augusto dos Anjos, Cecília Meireles, Francisca Júlia, entre outros.
Um dos casos que posso relatar é do prefácio dos "Últimos Sonetos" de Cruz e Sousa que tenho. Os originais estavam nas mãos de Andrade Muricy - antes estavam nas mãos de Nestor Vítor -, e foram, por decisão de Muricy, doados ao acervo da Fundação Casa de Rui Barbosa.
Pouco tempo depois, a Editora da Universidade de Santa Catarina lançou uma edição revista e "crítica", segundo consta na orelha-de-capa. No prefácio, escrito por Júlio Castañon Guimarães, há uma referência sobre o "Panorama do Movimento Simbolista Brasileiro":

"A verdadeira amplitude do movimento simbolista brasileiro foi revelada em 1952 com a publicação do abrangente Panorama do Movimento Simbolista Brasileiro, de Andrade Murici, embora aí estejam incluídas, num intuito globalizante, algumas produções desprovidas de valor e interesse, bem como submetidas à rubrica "simbolismo" tanto a prosa impressionista de Raul Pompeia quanto a poesia expressionista de Augusto dos Anjos". (grifo meu).

Uma grande negação da influência e da perspectiva de um movimento como um todo. Além do mais, uma grande desatenção, pois um panorama não é uma antologia, pela qual o organizador de autores pode retirar os infelizes pormenores (se é que existem, de fato) - diferença básica explicada por Muricy no início da Introdução.
Durante o estudo, pouco acrescenta ao estudo da poética de Cruz e Sousa (talvez pela época em que fora publicado o livro, em 1997, na 3ª revisão), diferentemente de visões de Ivan Teixeira, nas publicações atuais de Faróis e Broquéis/Missal, para quem a poética de Cruz e Sousa deveria ser lida de um ponto de vista metafísico, não somente Simbolista.

E nos didáticos, ensinam - se é que ainda o fazem - somente os dois célebres desde sempre, mas valorizados desde nunca.

Abraços, Cardoso Tardelli