segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A Independência do Brasil e a Segunda Geração Romântica

Não há momento mais oportuno para publicar tal postagem do que este que vivemos. Além de ser um ano de Eleição - mesmo eu, pessoalmente, sendo portador da alergia moral à política -, estamos a um dia da data na qual o Brasil tornou-se independente.

Não ficarei contando ou desfolhando histórias sobre a Independência brasileira. Isso para mim pouco importa. Se o farei, será durante a postagem - cujo tema soa curioso aos que da Didática Clássica não fogem: A Segunda Geração do Romantismo Brasileiro e a Independência.

Como já em outros posts defendi, discordo da simplificação, até mesmo didática, de chamar a Segunda Geração de Byroniana. Por mais influência do bardo Inglês - que é evidente - soa extremamente limítrofe a definição de tal geração como Byroniana, pois a dar tal denominação, não esconde que a trilha que a Geração percorreu em seus versos foi moldada pelo Poeta Inglês, mas houve singularidades tamanhas, tal como influências, que parece-me difícil dizer isso.

Enfim, sabe-se que na época em que os Românticos escreviam (época em torno de 1845 a 1870), independentemente da geração, havia dentro dos círculos acadêmicos, cultos e políticos uma tentativa de firmar e afirmar a Nação Brasileira. Muitos dão o crédito de tais tentativas à Primeira Geração, e seu indianismo - mesmo que o maior poeta de tal geração, Gonçalves Dias, não se limitasse a essa temática -, porém uma leitura atenta da Segunda Geração nos dá uma grande noção da preocupação de certos autores com tal temática.

Em As Primaveras, único livro de Casimiro de Abreu, mais conhecido pelos primeiros versos de "Meus Oito Anos", vê-se referências, não somente quando ele estava em Portugal e com saudades de sua terra, o que o fez fazer uma "Canção do Exílio" (inclusive com semelhanças de imagens e símbolos da célebre de Gonçalves Dias, como o Sabiá), ao dia da Independência Brasileira.

No Livro Primeiro, ainda em Lisboa, escreveu em "Minha Terra" uma estrofe sobre o tema:

"(...)

Foi ali, no Ipiranga,
Que com toda a majestade
Rompeu de lábios augustos
O brado da liberdade;
Aquela voz soberana
Voou na plaga indiana
Desde o palácio à choupana,
Desde a floresta à cidade!"

Ainda no Livro Primeiro, mas já em "Brasilianas" - poesias escritas no Brasil -, escreveu um poema em dois cantos - cujo nome é "Sete de Setembro", dedicado a D. Pedro II. Não postarei a poesia inteira aqui, mas somente uma estrofe do primeiro canto:

(...)

Lá no Ipiranga do Brasil o Marte
Enrolado nas dobras do estandarte
Erguia o augusto porte;
Cercada a fronte dos lauréis da glória
Soltou tremendo brado da vitória:
- Independência ou morte!

Sabendo-se que o escrito em Lisboa foi feito em 1856, e o Sete de Setembro em 1858, parece-me não uma repetição de tema, mas sim um desenvolvimento necessário para o Autor e para as ânsias que transpareciam na época pelo país.

Casimiro de Abreu é um caso singelo na Segunda Geração - não por cantar a terra - mas pela linguagem simples, saudosa, e musicalidade para além de Quartetos e Sonetos. As suas quebras, inclusive, de estruturas em busca de musicalidade e sua linguagem simples fez que os Parnasianos atacassem seu estilo durante muito tempo. Outro ponto interessante a ser citado em sua poética é a sua relação com o Capitalismo, no poema A Estrada. A crítica social é atribuída toda à Terceira Geração, mas a Segunda Geração não se cegava a pontos críticos da sociedade.

Voltando à questão da Independência e a Geração Segunda Romântica, temos Fagundes Varela. Conhecido pelo poema em versos brancos escrito pelo falecimento de seu filho - O Cântico do Calvário - Varela não se absteve de perambular em várias temáticas, indo desde Platonismo até Panteísmo.

O que nos importa agora é a série de poemas lançados em 1863 - O Estandarte Auriverde. Dentro dos cantos presentes nessa série, há um chamado "A Dom Pedro II". Mesmo não tendo citado claramente o episódio do Ipiranga, como fez Casimiro de Abreu, a figura de Dom Pedro é mostrada para além de um Imperador, mas sim de um libertador. Tal como em "À São Paulo", também dessa série de poemas, a cidade é mostrada como a "Terra da liberdade!/Pátria de heróis e berço de guerreiros (...)", Dom Pedro é mostrado como "(...) o gênio benfazejo e grato" que poupou "as vidas no calor das fráguas (...)".

Fagundes Varela referia-se, muitas vezes, em seus poemas a "brasilianos céus e montes", reforçando a ideia já de um Céu de uma nação Brasileira, assim como seus Montes que somente eram presentes nestas plagas.

Diferentemente da análise parcial de Alfredo Bosi, em seu História Concisa da Literatura Brasileira, que o chamou de "o maior dentre os menores" que saíram das Arcadas do Largo do São Francisco, Varela teve grande importância para a poesia naquela época e foi um dos poucos Românticos da Segunda Geração que, em seus livros, tinha uma variação de temática ampla - e no decorrer de sua carreira literária tal variação, mesmo com certos pontos-comuns, foi continuando.
De contra-ponto ao que Bosi diz, o livro de Ana Luiza Martins e Heloisa Barbuy, Arcadas - Largo de São Francico: História da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (Melhoramentos, Alternativa, 1999), dá importância há três essenciais alunos que perambulavam pelas Arcadas da época: Álvares de Azevedo, Castro Alves e Fagundes Varela, dando a informação que os três têm uma placa para cada na entrada do reformado convento que era a Faculdade.

Os três grandes nomes de nossa poesia da Segunda Geração, inegavelmente, são Álvares de Azevedo - Maneco, porém, em sua poesia não tocava no assunto. Em sua segunda parte de a Lira dos Vinte Anos, contudo, faz defesa ao Capitalismo da época, indo de encontro ao padrão que se estabelecia na poesia Romântica (Bernardo Ricupero, em seu O Romantismo e a idéia de nação no Brasil, 1830-1870, faz uma pequena análise sobre a questão do Romântismo Brasileiro e Europeu e suas relações com o Capitalismo) -, Casimiro de Abreu e Fagundes Varela. Outros como Junqueira Freire (cuja poética é marcada pelo claustro que viveu no monastério e suas ânsias), José Bonifácio, o Moço (este em sua poesia defendia a abolição da escravidão. É um dos casos de um poeta que caminhou entre as duas últimas gerações do nosso Romantismo. Deu aula, inclusive, a Castro Alves no Largo de São Francisco), mesmo com qualidade inegável, tal como Aureliano Lessa, não tiveram tanta importância Poética para a Geração.

O motivo desta postagem foi, mais uma vez, tentar mostrar que dar o nome de Byronista é, além de errado didáticamente, muito exagerado (as didáticas tem de serem corretas, não exageradas). Além de tudo, ultra-byronizam o próprio Byron - que, mesmo com a presença de mortes, cemitérios e etc, ia para muito além disso. Entrava nas questões políticas da época (não somente Napoleão), e desenvolveu, acima de tudo, a poesia sarcástica de um modo muito interessante em Don Juan, inacabado, porém.

O Romantismo é um estilo vulgarizado, inclusive nos locais acadêmicos. Vulgarizado não por não ser bom - pelo contrário, é essencial para a construção do pensamento contemporâneo -, mas porque a vulgarização é o bálsamo para aqueles que não compreendem a essência.

Abraços, Cardoso Tardelli