sexta-feira, 2 de outubro de 2015

"Perfumes que Ficam", novo livro de poesia de Caio Cardoso Tardelli

Caros leitores do Sacrário das Plangências,

Lancei, há cerca de um mês, o meu novo livro de poesia, intitulado "Perfumes que Ficam". A editora escolhida foi a Kazuá, que fez um trabalho gráfico espetacular. Por ora, a obra está disponível por meio do site da Editora (clique sobre a capa para ir ao link da loja da Kazuá) e da Livraria Cultura. Há alguns exemplares comigo - para adquiri-los, basta enviar-me um e-mail (caio.tardelli@gmail.com). O preço é R$35,00.



Eis três poemas da obra:



A Morte me disse, certa vez,
Que embora muita vida pulsasse,
A vida é um reino fugace
Que - não importa a era - não tem reis.

Neguei, julgando ser insensatez
Que a Morte assim me falasse
Sobre a vida sem que a face
Do viver me contasse suas leis.

Mostrei à vida, então, um retrato:
Na mesma sala, eu bem infante,
Com o olhar em fulgor inexato...

“É a crença que reina os mundos!”
E ela: “É morto o instante,
Nada o agora. São reis os segundos!”

26/07/2013
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SOBERANIA

Na rude estrada em que me perdia,
Tingia o sol o meu rumo inconstante...
A esperança era um vento arfante
Já sem manifesta feição ou melodia.

O meu peito exausto não mais pedia
A água para a sede apavorante:
Um manso descanso é o bastante
Quando a ilusão já não alumia.

A tristeza circundava os momentos:
O céu era o meu abrigo aos relentos,
As estrelas minhas amantes cristalinas.

E quando n'horizonte (ó êxtases belos!)
Floriu a visão de derrotados castelos,
Vi-me soberano entre íntimas ruínas...

07/11/2012

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XVII

A Liberdade... A Liberdade não existe.
É uma ilusão daqueles que não amam
(A cada um o rumo revela correntes).
Um abrigo, que alma e coração reclamam,
Prender-nos-á entre paredes horrentes.
Ah! O sonhador é a sombra de seu sonho triste...
(Escravos das esperanças evanescentes...)
A Liberdade... A Liberdade não existe...

06/02/2014

Grande abraço,
Caio Cardoso Tardelli

quinta-feira, 23 de abril de 2015

A Torre Invedada - Vinte Ensaios Sobre o Simbolismo Brasileiro

Caros,
Foi lançado, pela Lumme Editor, o meu livro "A Torre Invedada - Vinte Ensaios Sobre o Simbolismo Brasileiro", em que discorro sobre o movimento simbolista no Brasil desde o seus primórdios até as manifestações contemporâneas. O livro pode ser obtido por meio da Livraria Cultura (clique na imagem e seja direcionado à página da "Torre Invedada" na Livraria) ou por meio do e-mail: vendas@lummeeditor.com - confira! 



Posto, para fins de demonstração, a introdução presente na Torre Invedada:

O SIMBOLISMO BRASILEIRO PARA ALÉM DE CRUZ E SOUSA E ALPHONSUS DE GUIMARAENS


            "O movimento simbolista, corrente artística fincada no ideal da perscrutação lírica e sugestiva do ser, do além e da própria significação onírica da vida, teve, no Brasil, por convenção didática, os seus maiores representantes nas figuras do catarinense Cruz e Sousa (1861-1898) e do mineiro Alphonsus de Guimaraens (1870-1921). Porém, com exceção aos versos cheios de aliteração de “Violões que Choram...”, de Cruz e Sousa, e aos célebres quartetos de “Ismália”, de Alphonsus de Guimaraens, é pequena a parcela dos que leem a obra completa dos dois. E há motivos para isso. O Simbolismo, não obstante a sua aparência formal, a sua temática severa, transcendente, foi – e ainda é - uma poesia marginal. Precedeu, nas terras brasileiras, grande parte das “revoluções” anunciadas na Semana da Arte Moderna – do verso harmônico ao verso solto, sem metro; sonetos assimétricos, sem rima; até a poesia visual -, mas ainda assim é tratado somente como um contramovimento ao Parnasianismo.
            Mas a própria convenção que faz com que o Simbolismo brasileiro tenha somente dois representantes importantes é falaciosa. Se, por um lado, no Panorama do Movimento Simbolista Brasileiro, de Andrade Muricy (Editora Perspectiva; 1987), há, nada mais, nada menos que cento e trinta e um escritores simbolistas – na maior parte, poetas –, o próprio Muricy confessa-nos que não se deteve ao relatar casos de poetas menores, alguns que não chegaram a sequer publicar um livro – mas tiveram vida intelectual ativa em prol do movimento. O que se pode notar é que muitos poetas do Simbolismo brasileiro são realmente de estro altivo, consideráveis para qualquer plano e panorama das altas letras brasileiras, que ainda tende a crer que somente começamos a ter uma poesia “puro sangue” após 1922 – sendo que Manuel Bandeira, Guilherme de Almeida, Filipe d'Oliveira, Graça Aranha, e até o grupo modernista da Festa, entre outros, estavam envolvidos com o Simbolismo, seja por produções passadas, como Filipe d'Oliveira e Manuel Bandeira, seja por uma confluência com o espírito criativo simbolista, como Guilherme de Almeida.
            No que se refere à fecundidade do Simbolismo brasileiro, ainda há incorreções: com várias produções anteriores a 1893, ano de publicação de Missal e Broquéis, de Cruz e Sousa, já se escrevia poesia simbolista no Brasil, fosse no Sul, Sudeste ou Nordeste: o que o Dante Negro ofereceu aos nefelibatas, ao lançar as suas obras, foi a figura indiscutível de um líder e de um assinalado. Convencionou-se, portanto, que o Simbolismo no Brasil iniciou-se em 1893 e findou em 1911, com o lançamento de Ilusão, de Emiliano Perneta; quatorze anos de produção e relevância já colocaria o movimento entre os mais importantes da literatura brasileira. Porém, a realidade mostra que, ao contrário do que se padronizou, o auge do Simbolismo no Brasil ocorreu exatamente quando declarou-se que ele estava morto, ou seja, no período entre 1911-1938 (de Ilusão a Sublimação, de Gilka Machado), tendo ainda momentos de glória, além dessa limítrofe data, nas vozes de Cecília Meireles, Pádua de Almeida, Onestaldo de Pennafort e, sobretudo, em Duque-Costa. A percepção de que o “Simbolismo já não dava frutos” a partir de 1911 (como Drummond, ao comentar Raul de Leoni, declarou) provém da crença no Pré-Modernismo como resumo de toda a produção artística da época, como se tudo desaguasse no movimento de 1922 e fosse, por inércia artística, modernista após a Semana de Arte Moderna. No período de 1911 e 1922, o Pós-Romantismo, Parnasianismo, Neo-Parnasianismo, Simbolismo ortodoxo (no Rio Grande do Sul, principalmente), Pós-Simbolismo e, aí sim, os artistas de 22, produziam a sua arte concomitantemente, não raramente dialogando entre si. Naquela época singular da Belle Époque, havia espaço até mesmo para um quinhentista, como o foi o ótimo José Albano. Convém muito mais, em vez do lugar-nenhum que é o Pré-Modernismo, o termo pensado por Tasso da Silveira (filho do simbolista Silveira Neto): ocorria, pois, um sincretismo de Simbolismo, Neo-Parnasianismo, Pós-Romantismo, enfim, na Literatura Brasileira daquela época.
            O fato de que o auge do Simbolismo brasileiro se dá a partir de 1911 baseia-se pela grandiosidade da obra dos autores que publicaram nessa época, não por grife que os seus nomes podem sugerir. Excluindo-se os três gigantes (Cruz e Sousa, Alphonsus de Guimaraens e Emiliano Perneta), restam-nos, como se pouco fosse, Augusto dos Anjos (Eu, 1912), Pedro Kilkerry (1885-1917, com publicações esparsas), Eduardo Guimaraens (A Divina Quimera, 1916), Hermes Fontes (de 1908 a 1930 produziu simbolismo da melhor qualidade), Gilka Machado (só o seu Meu Glorioso Pecado, de 1928, bastaria para eternizá-la), Duque-Costa (1894-1977, publicando principalmente na Fon-Fon), Raul de Leoni (Luz Mediterrânea, 1922), Onestaldo de Pennafort (seus Escombros Floridos, datam de 1921), Dario Vellozo (Cinerário, 1929), entre tantos outros podem ser citados.
            Jogar lume à poesia de alguns desses autores, muitos dos quais, não obstante a importância de suas poéticas, não obtiveram re-edições de suas obras, e ao Simbolismo como um movimento muito maior do que convencionou-se no Brasil – mesmo porque influiu nos rumos definitivos da literatura brasileira, inclusive nos contemporâneos -, é o objetivo dessa série de ensaios. Focar, em primeira vista, somente no que alguns chamariam de “pormenores” tem um motivo evidente: mostrar que esses não são pormenores do Simbolismo,  mas poetas com obras próprias, não raramente grandiosas. Essa ênfase, porém, não é proibitiva: em alguns textos que englobam o mais do movimento simbolista, Cruz e Sousa, Alphonsus e Emiliano Perneta, como seria natural, tiveram os seus textos transcritos; mas em ensaios dedicados a um autor somente, o foco foi outro, como já explicado. Todos eles, originalmente, foram publicados na revista Mallarmargens de Poesia e Arte Contemporânea, sofrendo, nesta obra, algumas modificações e acréscimos para que a publicação fique à maneira de um livro. Alguns deles têm como objetivo principal não a perscrutação profunda sobre o autor tratado, mas a introdução à sua obra, que é o que há de maior valor e é exatamente o que está esquecido.

Apesar da fonte inestimável do Panorama do Movimento Simbolista Brasileiro, entre outras antologias e análises críticas (de Manuel Bandeira, Massaud Moisés, Péricles Eugênio da Silva Ramos até as mais atuais, como a de Cassiana Lacerda Carollo), ainda há muito o trazer à tona sobre os simbolistas brasileiros, principalmente em uma obra que, não sendo uma antologia e nem um livro acadêmico, consiga focar, ainda assim, na poesia do estilo – que é o que importa e o que há de sobreviver."

Abraços,
Caio Cardoso Tardelli