Foi lançado, pela Lumme Editor, o meu livro "A Torre Invedada - Vinte Ensaios Sobre o Simbolismo Brasileiro", em que discorro sobre o movimento simbolista no Brasil desde o seus primórdios até as manifestações contemporâneas. O livro pode ser obtido por meio da Livraria Cultura (clique na imagem e seja direcionado à página da "Torre Invedada" na Livraria) ou por meio do e-mail: vendas@lummeeditor.com - confira!
Posto, para fins de demonstração, a introdução presente na Torre Invedada:
O SIMBOLISMO BRASILEIRO
PARA ALÉM DE CRUZ E SOUSA E ALPHONSUS DE GUIMARAENS
"O
movimento simbolista, corrente artística fincada no ideal da perscrutação lírica
e sugestiva do ser, do além e da própria significação onírica da vida, teve, no
Brasil, por convenção didática, os seus maiores representantes nas figuras do
catarinense Cruz e Sousa (1861-1898) e do mineiro Alphonsus de Guimaraens
(1870-1921). Porém, com exceção aos versos cheios de aliteração de “Violões que
Choram...”, de Cruz e Sousa, e aos célebres quartetos de “Ismália”, de
Alphonsus de Guimaraens, é pequena a parcela dos que leem a obra completa dos
dois. E há motivos para isso. O Simbolismo, não obstante a sua aparência
formal, a sua temática severa, transcendente, foi – e ainda é - uma poesia
marginal. Precedeu, nas terras brasileiras, grande parte das “revoluções”
anunciadas na Semana da Arte Moderna – do verso harmônico ao verso solto, sem
metro; sonetos assimétricos, sem rima; até a poesia visual -, mas ainda assim é
tratado somente como um contramovimento ao Parnasianismo.
Mas
a própria convenção que faz com que o Simbolismo brasileiro tenha somente dois
representantes importantes é falaciosa. Se, por um lado, no Panorama do
Movimento Simbolista Brasileiro, de Andrade Muricy (Editora Perspectiva;
1987), há, nada mais, nada menos que cento e trinta e um escritores simbolistas
– na maior parte, poetas –, o próprio Muricy confessa-nos que não se deteve ao
relatar casos de poetas menores, alguns que não chegaram a sequer publicar um
livro – mas tiveram vida intelectual ativa em prol do movimento. O que se pode
notar é que muitos poetas do Simbolismo brasileiro são realmente de estro
altivo, consideráveis para qualquer plano e panorama das altas letras
brasileiras, que ainda tende a crer que somente começamos a ter uma poesia
“puro sangue” após 1922 – sendo que Manuel Bandeira, Guilherme de Almeida,
Filipe d'Oliveira, Graça Aranha, e até o grupo modernista da Festa,
entre outros, estavam envolvidos com o Simbolismo, seja por produções passadas,
como Filipe d'Oliveira e Manuel Bandeira, seja por uma confluência com o
espírito criativo simbolista, como Guilherme de Almeida.
No
que se refere à fecundidade do Simbolismo brasileiro, ainda há incorreções: com
várias produções anteriores a 1893, ano de publicação de Missal e Broquéis,
de Cruz e Sousa, já se escrevia poesia simbolista no Brasil, fosse no Sul,
Sudeste ou Nordeste: o que o Dante Negro ofereceu aos nefelibatas, ao lançar as
suas obras, foi a figura indiscutível de um líder e de um assinalado.
Convencionou-se, portanto, que o Simbolismo no Brasil iniciou-se em 1893 e
findou em 1911, com o lançamento de Ilusão, de Emiliano Perneta;
quatorze anos de produção e relevância já colocaria o movimento entre os mais
importantes da literatura brasileira. Porém, a realidade mostra que, ao
contrário do que se padronizou, o auge do Simbolismo no Brasil ocorreu
exatamente quando declarou-se que ele estava morto, ou seja, no período entre
1911-1938 (de Ilusão a Sublimação, de Gilka Machado), tendo ainda
momentos de glória, além dessa limítrofe data, nas vozes de Cecília Meireles,
Pádua de Almeida, Onestaldo de Pennafort e, sobretudo, em Duque-Costa. A
percepção de que o “Simbolismo já não dava frutos” a partir de 1911 (como
Drummond, ao comentar Raul de Leoni, declarou) provém da crença no
Pré-Modernismo como resumo de toda a produção artística da época, como se tudo
desaguasse no movimento de 1922 e fosse, por inércia artística, modernista após
a Semana de Arte Moderna. No período de 1911 e 1922, o Pós-Romantismo,
Parnasianismo, Neo-Parnasianismo, Simbolismo ortodoxo (no Rio Grande do Sul,
principalmente), Pós-Simbolismo e, aí sim, os artistas de 22, produziam a sua
arte concomitantemente, não raramente dialogando entre si. Naquela época
singular da Belle Époque, havia espaço até mesmo para um quinhentista,
como o foi o ótimo José Albano. Convém muito mais, em vez do lugar-nenhum que é
o Pré-Modernismo, o termo pensado por Tasso da Silveira (filho do simbolista
Silveira Neto): ocorria, pois, um sincretismo de Simbolismo,
Neo-Parnasianismo, Pós-Romantismo, enfim, na Literatura Brasileira daquela
época.
O
fato de que o auge do Simbolismo brasileiro se dá a partir de 1911 baseia-se
pela grandiosidade da obra dos autores que publicaram nessa época, não por
grife que os seus nomes podem sugerir. Excluindo-se os três gigantes (Cruz e
Sousa, Alphonsus de Guimaraens e Emiliano Perneta), restam-nos, como se pouco
fosse, Augusto dos Anjos (Eu, 1912), Pedro Kilkerry (1885-1917, com
publicações esparsas), Eduardo Guimaraens (A Divina Quimera, 1916), Hermes Fontes (de 1908 a 1930 produziu
simbolismo da melhor qualidade), Gilka Machado (só o seu Meu Glorioso Pecado,
de 1928, bastaria para eternizá-la), Duque-Costa (1894-1977, publicando
principalmente na Fon-Fon), Raul de Leoni (Luz Mediterrânea,
1922), Onestaldo de Pennafort (seus Escombros Floridos, datam de 1921),
Dario Vellozo (Cinerário, 1929), entre tantos outros podem ser citados.
Jogar
lume à poesia de alguns desses autores, muitos dos quais, não obstante a
importância de suas poéticas, não obtiveram re-edições de suas obras, e ao
Simbolismo como um movimento muito maior do que convencionou-se no Brasil –
mesmo porque influiu nos rumos definitivos da literatura brasileira, inclusive
nos contemporâneos -, é o objetivo dessa série de ensaios. Focar, em primeira
vista, somente no que alguns chamariam de “pormenores” tem um motivo evidente:
mostrar que esses não são pormenores do Simbolismo, mas poetas com obras próprias, não raramente
grandiosas. Essa ênfase, porém, não é proibitiva: em alguns textos que englobam
o mais do movimento simbolista, Cruz e Sousa, Alphonsus e Emiliano Perneta, como
seria natural, tiveram os seus textos transcritos; mas em ensaios dedicados a
um autor somente, o foco foi outro, como já explicado. Todos eles,
originalmente, foram publicados na revista Mallarmargens
de Poesia e Arte Contemporânea, sofrendo, nesta obra, algumas modificações
e acréscimos para que a publicação fique à maneira de um livro. Alguns deles
têm como objetivo principal não a perscrutação profunda sobre o autor tratado,
mas a introdução à sua obra, que é o que há de maior valor e é exatamente o que
está esquecido.
Apesar da
fonte inestimável do Panorama do Movimento Simbolista Brasileiro, entre
outras antologias e análises críticas (de Manuel Bandeira, Massaud Moisés,
Péricles Eugênio da Silva Ramos até as mais atuais, como a de Cassiana Lacerda
Carollo), ainda há muito o trazer à tona sobre os simbolistas brasileiros,
principalmente em uma obra que, não sendo uma antologia e nem um livro
acadêmico, consiga focar, ainda assim, na poesia do estilo – que é o que
importa e o que há de sobreviver."
Abraços,
Caio Cardoso Tardelli
Caro Caio,
ResponderExcluirNo seu livro, há um artigo sobre Francisca Júlia?
Cordialmente,
Carlos Augusto