quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Sugestões de Leitura - Parte IV

Caros leitores do Sacrário das Plangências, faço, como pretendo em todo mês, as minhas sugestões de leitura. Ocasionalmente, algumas já foram utilizadas na moldagem de alguns tópicos estudados neste espaço, porém, aqui o objetivo é uma amostragem de obras (de edições novas ou não) que seguem o perfil deste blog.

SUGESTÕES:

GUILHERME DE ALMEIDA (Trad.) - Poetas da França. Editora Babel: 5ª Edição (bilíngue), 2011. 233 páginas.
Esta edição de algumas das várias traduções de poetas franceses do modernista Guilherme de Almeida chega ao Brasil em afortunada hora (a editora Babel tem como sede Portugal, mas começou a lançar os seus livros no Brasil). Contendo desde poetas dos estertores da Idade Média, como François Villon (1432-1463) até os mais altos elementos da poesia Simbolista da França, como Charles Baudelaire (1821-1861), é um livro que reúne toda a capacidade e fidelidade de tradução de G. de Almeida, algo que, de certa forma, condenava-o perante os seus revolucionários companheiros Modernistas, tendo em vista que a Poesia Francesa operou grande influência na poética de Guilherme, grande cultuador de sonetos requintados e estéticamente impecáveis. É um livro imperdível para os que têm interesse em boa poesia e, também, para os que têm interesse em métodos de tradução, pois, sendo uma edição bilíngue, as comparações entre os textos são inevitáveis.

FAGUNDES VARELA - Cantos e Fantasias e Outros Cantos.  Editora Martins Fontes: 1ª Edição, São Paulo, 2003. 436 páginas.

Talvez estejamos diante da edição mais completa que há, atualmente, da obra do poeta Romântico Fagundes Varela. Célebre pelo seu "Cântico do Calvário", talvez  também pelo seus dez cantos de "Juvenília", a sua obra não é devidamente divulgada nos dias atuais. Foi ele o maior poeta do Brasil depois de Álvares de Azevedo e antes de Castro Alves, este que, ainda na Academia de Direito do Largo de São Francisco, perguntado sobre os seus poetas prediletos, disse que "do presente, Fagundes Varela" lhe era o favorito. Em si, Varela teve grande fama entre 1860 e 1870, envolvendo-se em questões da pátria (Estandarte Auriverde) ou no puro spleen Romântico, que era próprio de seu panteístico ser, que preferia a calmaria das matas ao caos das crescentes cidades. Enfim, obra obrigatória para os fãs do Romantismo brasileiro.

ARTHUR RIMBAUD - Correspondência. Tradução: Ivo Barroso. Editora Topbooks: 1ª Edição, Rio de Janeiro, 2009. 474 páginas.

A arte da correspondência é uma das mais preciosas moldadas pelo ser humano, mas é uma que morrendo está no mundo contemporâneo. Muito talvez por consequência da ânsia de velocidade e efemeridade, não do afã de intensidade e prolixidade dessa ânsia de revelação que é, em si, é natural desse mesmo coração que sente horror ao passar do tempo, apesar de perambular desapercebida por muitos que para si mesmos não olham. Quando deparamo-nos com um livro de "correspondências" que contém os depoimentos dos processos referentes ao crime passional de Verlaine contra Rimbaud (o poeta de "Canção do Outono" atirou contra Rimbaud depois de várias turbulências no relacionamento dos dois), que contém desenhos produzidos pelo autor de "Uma Temporada no Inferno" - quando já da poesia havia desistido -, sejam eles na estadia na África ou sejam outros, inclusive feitos por Verlaine, e até mesmo desenhos feitos pela irmã do poeta na ocasião de seus derradeiros momentos, além das várias cartas escritas por Rimbaud, evidentemente, encontramos um livro que, se utilizado ao lado da poética do autor, dar-nos-á quase uma totalidade de compreensão de sua obra e mente (a totalidade é impossível, bem sabemos). Algumas das correspondências são de tocante desespero - outras de arfante ironia - mas todas inundadas por um tédio inexorável de tudo que rondava Arthur.

STHÉPHANE MALLARMÉ - Coleção Signos 02. Tradução: Augusto de Campos e Décio Pignatari. Editora Perspectiva, São Paulo, 3ª Edição, 2003. 232 páginas.

A capa da obra pode ser, de fato, um tanto diferente do que os leitores de Mallarmé, magnífico poeta Simbolista francês (um dos que mais reverberaram no Brasil; acima de tudo, o teórico da sugestividade), poderiam imaginar. A justificativa é de que o poeta fora um visualizador de uma época imergida na industrialização, o que desaguou nas próprias perspectivas tecnológicas que ficam evidentes na capa. Augusto de Campos e Décio Pignatari são dois dos expoentes da Poesia Concreta brasileira, justificando, assim, poemas-imagens como o encontrado no final do livro, no qual retrata-se o túmulo de Mallarmé numa repetição do nome do poeta, além de conter um natural jogo de palavras. O alto aspecto do livro é a tradução, de alta qualidade, mas deve-se saber sobre a obra dos tradutores. Aliás, o Movimento Concretista, apesar de totalmente alheio ao movimento Simbolista, num panorama temático, fora influenciado por este principalmente no que se refere aos jogos de imagens construídos por meio da métrica, não por meio de imagens que as palavras passam. Algo que começou no próprio Romantismo (com Fagundes Varela), perambulou como Símbolo no movimento Decadentista, e desaguou no extremo uso de imagens, nem tanto de profundas palavras, em nosso Concretismo.

Caros leitores do Sacrário das Plangências, finda está aqui esta seção de Sugestões Literárias. Apesar do claro foco no gênero poético, não creio que haja exageros nesta quarta parte: alguém tem de falar sobre estes autores.

Abraços, Cardoso Tardelli

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