quinta-feira, 23 de maio de 2013

Autorretrato - Cardoso Tardelli

Caros leitores do Sacrário das Plangências, posto-lhes um poema presente na Poética das Quimeras (Selo FuturarteEd. Multifoco, 2012). 


A obra está disponível na Livraria Cultura (clique aqui para o link) e no site da editora (clique aqui para o link). Há agora também o e-book da Poética das Quimeras (clique aqui para comprá-lo na Amazon.)



AUTORRETRATO

Sou daqueles infortunados
Cujo semblante é seco, tristonho...
E se rio, são pelos ledos fados
Das esperanças tredas do meu sonho.

E se rio, meu estranho sorriso
Tem a marca mais enegrecida:
Pois aparentando humano viso,
Flerta com os dos que não têm vida.

Minha boca é seca de beijos,
Talvez orvalhada de quimeras.
Diz ao meu peito imensos desejos,
Mas, a si mesma, não diz primaveras.

São tristes, meu Deus, esses lábios
Que sonham com o que já é morto.
São tristes, conformados! São sábios,
Pois, sabem d'Amor o sublime porto.

Olhos sentenciados a sofrer
Do pranto terrivelmente infindo.
Ao Sono, eles pedem pra adormecer,
Mas aos tormentos d'alma vão caindo.

Olhos que fitam o que é Santo,
Sonhando, lastimamente, sonhando:
Ah! Mesmo a mágoa tem encanto
Quando vem a lembrança, cintilando.

E como são macilentas, vãs, as mãos
Que meus braços elevam ao sonhar...
Talvez pensando em todos os vãos
Da vida que ao Sonho irão fanar.

Mãos que, quando tocam a minh'alma,
Sentem toda a sua triste dor,
Que podem versar algo que acalma
Toda a mundana visão de horror.

Sou o anelo que veste tristezas
Na dor imperial do Ocaso...
Que, absorto, contempla belezas
Que desdenham do meu sentir não raso...


Abraços,
Cardoso Tardelli



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