sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

A Influência dos Portugueses no Simbolismo Brasileiro - Um depoimento

Caros leitores do Sacrário das Plangências, transcrevo-lhes um breve texto do autor simbolista Antônio Austragésilo (1876-1960), no qual se dá uma descrição das influências dos autores estrangeiros no movimento Simbolista Brasileiro - com um interessante foco nos autores portugueses que fizeram moda à época. É bom lembrar que alguns, como Camilo Pessanha - autor da genial Clepsidra - sequer foi lido pela mais aguda camada simbolista, já que fora publicado tardiamente (1920). Outro caso que seria interessante citar é da poetisa Florbela Espanca, já que a sua produção de maior qualidade é claramente simbolista - mas que só ganhou destaque quando findado o movimento - caracterizado como tal.


OS PORTUGUESES

"Les Fleurs du Mal eram-nos a bíblia literária; 'L'albatros", 'Une Charogne', 'Les Litanies de Satan' viviam decorados em nossos pensamentos, especialmente o estribilho que dominava o sabor dos Novos

Ó Satan, prends pitié de ma longue misère!

Inegavelmente, Baudelaire continuava a ser o maior poeta francês. (...) Mallarmé também nos viveu dentro do coração, porque abandonara o Parnasianismo para tornar-se um dos mais fervorosos sectários do Simbolismo.

Não poderemos negar que a maior influência nos veios de Portugal, como João Barreira, Eugênio de Castro, e Antônio Nobre. João Barreira havia publicado um livrinho de prosa, Gouaches, que impressionou vivamente os simbolistas brasileiros. Cruz e Sousa quedou-se encantado com o escritor lusitano. 'Diálogo Outonal', 'Monólogo de um Crânio', 'A Rosácea da Capela Gótica' eram repetidos como salmos da nova orientação literária. Grande impressão deixara em todos nós as poesias de Antônio Nobre, do livro . Repetíamos frequentemente os lindos versos do infeliz poeta lusíada, como expressões bíblicas do nosso ritual: 'Males de Anto', sonetos, elegias, brotavam-nos da alma como as águas das fontes. Antônio Nobre foi inegavelmente um dos maiores líricos, verdadeiro messias, como lhe chamou Alberto d'Oliveira. Tivemos sempre conosco Eugênio de Castro, poderoso poeta: Oaristos, Belkiss, Sagramor, Salomé, contêm o mesmo ousio literário do mestre português. (...) Também ganhamos na preciosa colheita o gênio de Guerra Junqueiro, que com Os Simples nos deu força e propulsão para o canto das nossas tendências espirituais. Arrebanhamos mais poetas e escritores lusitanos. Cesário Verde, que não foi simbolista; Teixeira de Pascoais, criador do Saudosismo; Raul de Brandão, que publicara a História de um Palhaço e a Farsa."

(In: Panorama do Movimento Simbolista. Vol. 2. Andrade Muricy, Páginas 686-687) 
  
Somente como curiosidade, o verso citado por Austragésilo é do poema "Litanias de Satã" - um dos mais célebres das Flores do Mal, de Baudelaire. A tradução de Ivan Junqueira para tal trecho é:

Tem piedade, ó Satã, de minha atroz miséria!

Aliás, a tradução de Ivan Junqueira para a obra de Baudelaire é, na opinião do blogueiro, a melhor disponível. Encontra-se em edição bi-lingue pela "Nova Fronteira", contando com um estudo muito interessante acerca de vários pontos da obra e da vida do francês.

Abraços,
Cardoso Tardelli



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