terça-feira, 20 de março de 2012

Um Ótimo Documentário Sobre Cruz e Sousa

Caros leitores do Sacrário das Plangências, posto neste sítio um documentário feito pela TV Brasil sobre Cruz e Sousa, com o nome "João da Cruz e Sousa - De Lá Pra Cá", exibido em 20/10/2011.


Somente alguns comentários farei: no documentário, ainda é mantida a versão de que Cruz e Sousa teve aula com Fritz Müller. Porém, como atesta Ivone Daré Rabello, em Uma Leitura da Poética de Cruz e Sousa, o que ocorreu, na verdade, foi uma inversão de datas (Cruz e Sousa não teve aulas na época em que Müller lecionava no Liceu Provincial) e uma evidente tomada de ensejo pelos Simbolistas, pois, de fato, Fritz havia elogiado um de seus alunos, relatando que ele era negro e botando-o contra às teorias cientificistas -, justificando-se, portanto, na visão dos defensores de Cruz e Sousa, a presença do poeta negro na Literatura Brasileira por ele não ser inferior a um branco - sendo tal óbvio fato atestado, finalmente, por um mestre alemão.

Senti falta de alguma menção sobre Nestor Vítor no documentário. Cruz e Sousa o tinha como amado amigo, dedicando-lhe três sonetos em Últimos Sonetos (os três estão sob o nome de "Pacto das Almas"). Sem Nestor Vítor, provavelmente, não viriam tão cedo a lume as publicações póstumas do Dante Negro, pois ficaram a cargo do grande amigo do autor de Broquéis a publicação dos originais não-publicados, confiados por Cruz Sousa antes de sua viagem à morte.

O Simbolismo não somente fora um estilo do culto ao "Eu" (postura posta, quase sempre, em nosso país, como pecado), mas da expansão desse "Eu". Não era uma ânsia interna falando somente a si mesma, mas ao infinito, perscrutando os espaços da mente humana como nenhum outro estilo anterior o havia feito. É impossível julgar, tendo em vista que a Arte é um espelho de um Eu num espaço-tempo - não de uma sociedade por ela mesma-, que a Poesia Simbolista era individual e egoísta (levando, muitas vezes, a adjetivos quais "egotista", "elitista"...)

Por um todo, o documentário representa um meio bem didático de iniciação para a obra e biografia de João da Cruz e Sousa, que foi, de fato, o nosso maior Simbolista, apesar de não ter sido o nosso fundador do movimento (várias palpitações literárias anteriores a 1893 já indicavam o caminho seguido sob o signo do Símbolo).

Abraços,
Cardoso Tardelli

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