quarta-feira, 30 de junho de 2010

Lágrimas - Cardoso Tardelli


LÁGRIMAS - por Cardoso Tardelli
Que me resta, meu Deus? Aos meus suspiros
Não geme a viração...
E dentro, no deserto do meu peito,
Não dorme o coração!

Álvares de Azevedo
A aurora mostrou seu último brilho
Na vida do pobre poeta sonhador;
Que via na luz da manhã, o lume
Ausente n'alma do cantador.

Resta agora um rosto orvalhado
Pelas lágrimas de uma noite eterna;
Uma noite sem fulgor e sem uma estrela
A indicar qual a direção mais terna.

Resta um coração que mal bate,
Que pulsava em um sonhar demente;
Mas que ao deparar com uma noite
Sem estrelas – nem o amor sente.

Um coração que pulsava pelo anjo
Da aurora eterna – o anjo do sonhar;
Mas que na escuridão, nem a imagem
Do anjo consegue formar para o amar.

A aurora mostrou seu último brilho
Na vida do pobre poeta sonhador;
Que via na luz da manhã, o lume
Ausente n'alma do cantador.

As lágrimas que choro podem
A minha face orvalhar;
Que adianta? O meu coração seco
As lágrimas nunca irão molhar...

A alma queria crer no sonhar,
O coração queria pulsar pelo amor;
Queria, somente, ver-te nos sonhos
E neles, finalmente, entregar-te uma flor.

Resta um'alma desalentada,
Que tenta, junto ao coração,
Viver um novo fulgor na vida
De suplício: amar e solidão.

A aurora mostrou seu último brilho
Na vida do pobre poeta sonhador;
Que via na luz da manhã, a esperança,
De sonhos, viver o amor.

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