SOMBRAS
Nada há
acima do meu sonho, nada,
E só a
dor que o circunda me seduz...
A luz
que dele emana é alvorada:
O
caminho revelado é minha cruz.
E o
pranto - a saudade aprisionada -
Aos
olvidados passos me conduz.
Se a
terra é charca ou encantada,
A toda
essência o meu sonho traduz.
Certa
vez, ansiei fugir desta quimera,
Mas
sempre as sombras sobre os ombros
Ordenavam-me,
a ulular: “Espera!”
E desde
então, cercado, para me suster,
Eis-me a
fitar reluzentes escombros,
Ilusão
do que nunca fui ou hei de ser!
-
SAUDADE
VAGA
O dia se
fina. Ângelus nas altas capelas
São
entoadas com a dolência do Luto...
Ponho os
olhos no céu e flerto as belas
Gelhas
rosas que se enleiam num sonho impoluto;
Quais
amores o firmamento, em cânticos,
Guarda
aos corações que sempre o cultuam?
Quais, ó
Ventos leves, saudosos, teomânticos,
Que
beijais os rubros delírios que vos estuam?
Quais
sonhos guardais em vossos aéreos suportes
Às
dolentes almas na vossa sede complacente?
Quais
filhos da terra nas volúpias das mortes?
Por tal,
tenho o olhar sempre preso ao poente...
-
INCOMPLETUDE
Eu,
contemplador da desolação,
Tenho
para o céu os olhos postos,
Como
postos para um coração
Os mil
mistérios dos Sóis-Postos;
Tenho
ilusões que se vão na luz
Que é a
união de toda a mágoa...
Eu, mago
servil da rude paixão,
Vejo
onde o Sonho deságua -
E tenho
os meus olhos, antes nus,
Pesados
como lentas pedras n'água...
-
MEU
SOFRIMENTO
Não
estalam em meu peito as tristezas
Que
na necrópole despertam medo...
Tampouco
meu coração deixou-se cedo
Ao
pó fecundo das letais impurezas.
Dos
imprecisos poentes as belezas
Sorvo
até arrebatar-me em meu degredo...
Perambulam
em minh'alma o claror tredo,
Todo
o céu em angelicais levezas.
Mas
inda meu verso no ermo caminha,
E
as taciturnas penumbras avizinha
Ao
som do prantear que sequer existe.
E
jamais um amor passou nesses versos,
Ou
lamentos, sonhos, sorrisos dispersos...
Só
o pórtico da Glória há muito resiste.
("Nocturne in Black and Gold, the Falling", por James Abbott McNeil Whistler)