No lançamento do livro Ecos da Alma, pela Andross Editora, houve uma palestra discutindo o espaço para novos autores. Alguns falaram que a poesia está vivendo um momento ótimo, fulgente, pois temos lugares como este - os blogs - para divulgarmos o nosso trabalho. Não nego a importante função do meio eletrônico para a auto-divulgação, pois eu mesmo me rendi a ela, mas nem tudo são rosas orvalhadas.
Se procurarmos em qualquer site de busca por blogs de Poesia, vemos centenas, se brincar, milhares. Isso mostra, por um lado muito positivo, um interesse das pessoas para com a Poesia que antes não havia - além do mais, um interesse para com a leitura e a escrita. Por outro lado, abrindo tais blogs, vemos baixa qualidade de vocabulário, de temática e de poética. Não estou dizendo que escrever em vocabulários complexos, com métricas e rimas, somente, fazem uma poesia boa - Fernando Pessoa provou que nem sempre é preciso disso para uma boa poesia -, mas, em muitos casos, falta erudição poética. Qualquer tentativa de escrever, de desabafar sobre determinado momento, é válida e amplamente compreensível, mas inexoravelmente as pessoas julgarão tal texto pobre de conteúdo ou cheio dos tão temidos "lugares-comuns".
Sobre os tais "lugares-comuns", tenho uma opinião: é difícil escrever algo totalmente novo sendo que há 4000 anos os seres humanos utilizam da escrita como um meio de comunicação. E julgar-se totalmente novo soa tenebrosamente pretensioso, como foram os Modernistas - que de novos pouco tinham, mas somente fizeram oposição ao estilo vigente no Brasil, que era o Parnasianismo.
Mas, mesmo que não haja algo totalmente novo, tem de haver erudição, palavras a serem ditas. Talvez esse seja um dos problemas da Poesia Contemporânea - contentar-se com a leitura de um ou outro poeta e dar-se por influenciado em totalidade por eles.
Outro erro, em minha franca opinião, é confundir poesia com letras de música. Para colocar uma letra numa música, tem de haver uma adaptação de palavras, de frases, para que na melodia e no ritmo tais sílabas e métricas caibam exatamente. Por esse motivo, o processo poético fica extremamente prejudicado - muito mais do que ficaria em qualquer métrica trissílaba. Não se pode esquecer, de modo algum, que uma letra de música não pode ser analisada separadamente de sua melodia - pois uma condiz com a outra. E em muitos casos de novos poetas da Nova Geração, vemos que a inspiração deles são letristas de músicas. Quanto a isso - sem problema algum. A grande questão é a limitação poética que os Novos imitam, e sem a melodia para preencher o vazio das palavras ausentes.
Acho extremamente válido, como já disse, escrever e divulgar, ainda mais com a internet como opção para tal. Mas para a Nova Poesia ser valorizada, uma nova postura tem de ser tomada. A partir da hora que há uma maior facilidade de acesso aos clássicos, ao mercado e etc, temos de - não retornar ao passado - mas olhar o porvir com um olhar mais eloquente e questionador do que vemos nessa geração.
Ao meu ver, parece minimamente estranho não ter despontado nenhum grande poeta ou escritor nos últimos anos. E não me digam de Paulo Coelho ou Augusto Cury - exemplo do culto da necessidade de um ombro utópico e amigo que logo desaparece: as auto-ajudas.
O destino dessa nova geração - se ela quer ser levada a sério como eu quero que seja - depende de suas atitudes contra a vulgarização da poesia e da literatura, e da valorização dos que, no presente e no futuro, hão de surgir com as possibilidades que nos são dadas.
Abraços, Cardoso Tardelli
Os de boas tiragens livros são os mais antigos e modernos. Pelo o que falam, Carlos Drummond de Andrade e Fernando Pessoa, por exemplo, vendem, dentro de um contexto poético, bastante. Mas o que é esse contexto poético? Por que tal dificuldade de ler versos, por mais fáceis que sejam? É algo que ainda questionarei. A poesia já foi mais valorizada em antigos tempos. Hoje é tratada com desdém, infelizmente.
ResponderExcluirSerá mesmo que a poesia foi mais valorizada? Num contexto geral, tudo que tem haver com escrita sofreu transformações tão intensas, que não sabemos mais o lugar que os textos deveriam ocupar [pelo menos o digo por mim]. De qualquer forma, não nos é permitido desanimar, pois ainda existem pessoas que gostam de escrever a apreciam a poesia apaixonadamente,mas nem sempre caminham pelas estradas virtuais...
ResponderExcluirCardoso Tardelli:
ResponderExcluirQue tal esse fragmento de poema Oswaldiano, sem música?
"
Há poesia
Na dor
Na flor
No beija-flor
No elevador
"
E esse poema (exaltação-presumida ao samba) com música, do Chico Buarque? Repare os dísticos em versos decassílabos e a estrutura que fecha o elo de uma corrente. O que você acha?
CORRENTE
Eu hoje fiz um samba bem pra frente
Dizendo realmente o que é que eu acho
Eu acho que o meu samba é uma corrente
E coerentemente assino embaixo
Hoje é preciso refletir um pouco
E ver que o samba está tomando jeito
Só mesmo embriagado ou muito louco
Pra contestar e pra botar defeito
Precisa ser muito sincero e claro
Pra confessar que andei sambando errado
Talvez precise até tomar na cara
Pra ver que o samba está bem melhorado
Tem mais é que ser bem cara de tacho
Não ver a multidão sambar contente
Isso me deixa triste e cabisbaixo
Por isso eu fiz um samba bem pra frente
Dizendo realmente o que é que eu acho
Eu acho que o meu samba é uma corrente
E coerentemente assino embaixo
Hoje é preciso refletir um pouco
E ver que o samba está tomando jeito
Só mesmo embriagado ou muito louco
Pra contestar e pra botar defeito
Precisa ser muito sincero e claro
Pra confessar que andei sambando errado
Talvez precise até tomar na cara
Pra ver que o samba está bem melhorado
Tem mais é que ser bem cara de tacho
Não ver a multidão sambar contente
Isso me deixa triste e cabisbaixo
Por isso eu fiz um samba bem pra frente
Dizendo realmente o que é que eu acho
E este do Manuel Bandeira? É um poema, mesmo? Se for, pela sua estrutura poética ou pelo sentido nas entrelinhas?
Poema tirado de uma notícia de jornal
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
Eu sei que você já deve ter lido e ouvido todas essas coisas. O que você acha disso tudo?
Parabéns, Caio, pelo Blog.
Um forte abraço.
Ari - http://www.bloggaio.blogspot.com
Novamente demorei um século para responder os comentários. Os dísticos do Chico Buarque demonstram o que Cruz e Sousa já havia feito, mesmo seguindo rimas tradicionais, e Mário de Andrade tornou mais radical e levou a fama: versos harmônicos. Eles, por si somente, já trazem a musicalidade de um "arpejo" independentemente da posição da rima. Ivan Andrade trabalha bem com essa questão. Abraços, Ari.
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