ESPERA ETERNAL
Pendurada nos céus,
quase nas estrelas,
Onde os anjos tecem
todo o poente,
Minh'alma, sangrenta,
muda e penitente,
Vê todas as redenções
sem recebê-las.
Que penar é ouvir as
venturas, vê-las,
E nunca juntá-las ao
cismar doente;
Como que se não fosse
o céu clemente
E somente quem já riu
pudesse tê-las.
Assim, pendurada
acima do mundo,
Na triste ilusão do
meditabundo,
Arrepiando-se a cada
lembrar forte...
Vendo noites, dias,
anjos inditosos,
Após vagarem, indo
lentos, lutuosos,
Ao vagaroso julgamento
da Morte...
-
FELICIDADE
Lembro-me dos
adolescentes ocasos,
Dos doirados
tremulares infinitos...
Como os céus plangiam
morosos ritos,
Como espargiam na alma
mil acasos!
Lembro-me, tendo
absortos olhos fitos,
Do berço luzente em
sonhos fecundos -
Esses antigos templos
de outros mundos -
E de seus
silenciosos, divinais mitos.
Mas tristemente,
noutrora, já esguia
Surgia a mansidão de
minha alma...
Eregi, então, com o
encanto que nutria,
Uma Torre onde não
chorasse um perfil:
Sombras de uma
lembrança sem calma,
Vultos da fortuna de
quem já partiu...