Comecemos com um Soneto de tom irônico, jocoso, de um quintanista da Academia de Direito de São Paulo, chamado João de Azevedo Carneiro Maia, escrito em 1843:
"Raro aborto de horrenda catadura!
Magriço, macambúzio e derengado,
Olhar sombrio, rosto descarnado,
Nojento corpo, exótica figura.
Enchafurdado em larga vestidura,
Longo jaleco sujo, entabacado,
Farfalhudo casaco esverdinhado
C'oa enorme gola podre de gordura.
Tremendo beque em jorros destilando
O vil fermento de fétido esturro,
E o porco mel à boca escorregando.
Aí tens Burromeu, esse casmurro,
Filosofando só, só ruminando
Em Kant, em Jouffroy, mas sempre burro".
Como foi notado em Arcadas - Largo de São Francisco (Melhoramentos/Alternativa), escrito por Ana Luiza Martins e Heloísa Barbuy (que será usado neste post junto com o célebre Formação Histórica de São Paulo, de Richard Morse) os nomes de Kant e Jouffroy dão a noção de como a Filosofia Moderna estava palpitando nos cérebros dos estudantes das arcadas, contudo, sem surtir menor efeito para um crescimento da intelectualidade dos estudantes.
Se formos pegar fotos contemporâneas aos desse Soneto e fotos até o início da década de 1870 - quando iniciou-se o relativo glamour dos estudantes influenciados pelo estilo Dândi (não necessariamente nobre, contudo, elegante e extremamente culto) -, a vestimenta dos estudantes era realmente como demarcada no soneto (mesmo que esse seja irônico).
Como sabemos pelas cartas de Castro Alves e de Álvares de Azevedo, mesmo sendo os dois não contemporâneos de São Francisco, São Paulo era cidade brumosa e obscura, dando a sensação de ser uma cidade fria, principalmente em períodos noturnos.
Não obstante, tendo os estudantes aulas em épocas quentes, o traje tipicamente Europeu não condizia com a realidade Brasileira.
Toda imagem dos estudantes era de ostentação. Inclusive a questão que o Soneto citou sobre os
Filósofos deixa clara essas coisas. Tudo que os estudantes paulistanos faziam eram à lá Europeus,
contudo, era uma tentativa falaz, pois além de continuarem burros e ostentarem inteligência, ostentavam trajes da Europa esquecendo que o clima daqui não condizia com tais roupas.
A foto ao lado é de Fagundes Varela, poeta Romântico que nunca terminou a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, datada de 1863 e demonstra as vestimentas da época.
Infelizmente, o clima de ostentação pelos pedantes continua nas Universidades de Humanas até hoje. Somente os filósofos que foram trocados, contudo, apóio o nome "Burromeu" para grande parte dos alunos das ostentações, birras e farrapos.
Abraços, Cardoso Tardelli