quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Dois Poemas de Caio Cardoso Tardelli

ESPERA ETERNAL

Pendurada nos céus, quase nas estrelas,
Onde os anjos tecem todo o poente,
Minh'alma, sangrenta, muda e penitente,
Vê todas as redenções sem recebê-las.

Que penar é ouvir as venturas, vê-las,
E nunca juntá-las ao cismar doente;
Como que se não fosse o céu clemente
E somente quem já riu pudesse tê-las.

Assim, pendurada acima do mundo,
Na triste ilusão do meditabundo,
Arrepiando-se a cada lembrar forte...

Vendo noites, dias, anjos inditosos,
Após vagarem, indo lentos, lutuosos,
Ao vagaroso julgamento da Morte...

-

FELICIDADE

Lembro-me dos adolescentes ocasos,
Dos doirados tremulares infinitos...
Como os céus plangiam morosos ritos,
Como espargiam na alma mil acasos!

Lembro-me, tendo absortos olhos fitos,
Do berço luzente em sonhos fecundos -
Esses antigos templos de outros mundos -
E de seus silenciosos, divinais mitos.

Mas tristemente, noutrora, já esguia
Surgia a mansidão de minha alma...
Eregi, então, com o encanto que nutria,

Uma Torre onde não chorasse um perfil:
Sombras de uma lembrança sem calma,
Vultos da fortuna de quem já partiu...