quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Um Retrato dos Estudantes Paulistanos na Época do Romantismo

Esta postagem não tem como intenção ser longa e criar uma tese, pois se baseará em análises já feitas, Sonetos e fotos de época. É uma postagem para curiosidade daqueles que se interessam pela metade do Século XIX no Brasil, no caso, em São Paulo.

Comecemos com um Soneto de tom irônico, jocoso, de um quintanista da Academia de Direito de São Paulo, chamado João de Azevedo Carneiro Maia, escrito em 1843:

"Raro aborto de horrenda catadura!
Magriço, macambúzio e derengado,
Olhar sombrio, rosto descarnado,
Nojento corpo, exótica figura.

Enchafurdado em larga vestidura,
Longo jaleco sujo, entabacado,
Farfalhudo casaco esverdinhado
C'oa enorme gola podre de gordura.

Tremendo beque em jorros destilando
O vil fermento de fétido esturro,
E o porco mel à boca escorregando.

Aí tens Burromeu, esse casmurro,
Filosofando só, só ruminando
Em Kant, em Jouffroy, mas sempre burro".


Como foi notado em Arcadas - Largo de São Francisco (Melhoramentos/Alternativa), escrito por Ana Luiza Martins e Heloísa Barbuy (que será usado neste post junto com o célebre Formação Histórica de São Paulo, de Richard Morse) os nomes de Kant e Jouffroy dão a noção de como a Filosofia Moderna estava palpitando nos cérebros dos estudantes das arcadas, contudo, sem surtir menor efeito para um crescimento da intelectualidade dos estudantes.

Se formos pegar fotos contemporâneas aos desse Soneto e fotos até o início da década de 1870 - quando iniciou-se o relativo glamour dos estudantes influenciados pelo estilo Dândi (não necessariamente nobre, contudo, elegante e extremamente culto) -, a vestimenta dos estudantes era realmente como demarcada no soneto (mesmo que esse seja irônico).

Como sabemos pelas cartas de Castro Alves e de Álvares de Azevedo, mesmo sendo os dois não contemporâneos de São Francisco, São Paulo era cidade brumosa e obscura, dando a sensação de ser uma cidade fria, principalmente em períodos noturnos.
Não obstante, tendo os estudantes aulas em épocas quentes, o traje tipicamente Europeu não condizia com a realidade Brasileira.

Toda imagem dos estudantes era de ostentação. Inclusive a questão que o Soneto citou sobre os
Filósofos deixa clara essas coisas. Tudo que os estudantes paulistanos faziam eram à lá Europeus,
contudo, era uma tentativa falaz, pois além de continuarem burros e ostentarem inteligência, ostentavam trajes da Europa esquecendo que o clima daqui não condizia com tais roupas.
A foto ao lado é de Fagundes Varela, poeta Romântico que nunca terminou a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, datada de 1863 e demonstra as vestimentas da época.

Infelizmente, o clima de ostentação pelos pedantes continua nas Universidades de Humanas até hoje. Somente os filósofos que foram trocados, contudo, apóio o nome "Burromeu" para grande parte dos alunos das ostentações, birras e farrapos.

Abraços, Cardoso Tardelli